Pauta Brasil debate a destruição da tecnologia, dos empregos e da renda dos brasileiros
A financeirização da economia e as consequências na desindustrialização do país foi o início do programa Pauta Brasil desta segunda-feira, 15 de março. Com mediação de Artur Henrique, diretor da Fundação Perseu Abramo, que também questionou os convidados sobre tecnologia e cadeias produtivas, o impacto da fronteira tecnológica na indústria e no emprego, pandemia e governo Bolsonaro.
O economista André Calixtre abordou a desindustrialização precoce que vive o país e explicou que “as melhorias que ocorreram a partir de 2003 não resolveram a questão da desindustrialização, que com a pandemia assume contornos trágicos. As ‘soluções’ de Michel Temer aprofundaram o desemprego, depois, com Bolsonaro, a pandemia gerou encurtamento do mercado de trabalho. Não é uma questão trivial a ser resolvida. E gera consequências estruturais”.
Ana Georgina Dias é supervisora técnica do Escritório Regional do Dieese na Bahia e comentou o impacto do fechamento “trágico” da Ford em Camaçari (BA). Segundo ela, a empresa se instalou no Polo de Camaçari trazendo um complexo com impactos positivos para o Estado e para a região metropolitana de Salvador, o munícipio mais industrializado do estado. “Foi uma bomba. O simples anúncio da saída leva com ele milhares de outros empregos em diversos setores, não só na cadeia automotiva”.
Georgina ainda explicou que o caso Ford, “de forma tão abrupta, mostra que não temos como fazer o capital permanecer ou receber de volta a renúncia fiscal investida”. Para ela, é preciso “que existam metas de emprego, de permanência, para não ocorrer uma decisão unilateral, que impacta muito o Estado como um todo”.
André e Ana responderam se é possível construir uma política de industrialização do Brasil, com novos setores da indústria, mais ligados a questões sociais.
E para Ana, estamos indo no caminho contrário. “Isso ficou claro nos governos Lula e Dilma, quando fizeram o Minha Casa, Minha Vida, e com esse programa gerava empregos ao mesmo tempo que movimentava várias cadeias industriais, de saneamento e infraestrutura, além do efeito importante de redução do déficit habitacional para as faixas menores”. No atual cenário, Ana não acha provável concretizar algo assim, não com o governo Bolsonaro, que quer retirar mais direitos e baratear a mão de obra.
“A pandemia teve efeito de desnudar e escancarar a nossa vulnerabilidade em relação à nossa produção industrial, e como temos perdido espaço, até de indústrias que tínhamos posição sólida, como as farmacêuticas, por exemplo. Hoje só suprimos 5% do que temos de demanda. Além da desindustrialização, é também perda de posição onde tínhamos capacidade de produção”, lamentou Ana.
E André relembrou que o governo Bolsonaro é herdeiro do governo Temer, “radicalizado”, com desmontes do petróleo e gás, desorganização de várias cadeias produtivas com alta empregabilidade, em setores que vinham inclusive aumentando a massa salarial. Em 2016 veio a reforma trabalhista, que precarizou o mercado de trabalho, o ‘informal legal”, relatou.
Para ele, as ações de desmonte afetam também o momento, “no meio de uma emergência sanitária, não temos reservas para investimento tecnológico”, disse André, lembrando que no capitalismo moderno há Estado e mercado trabalhando juntos. “O Estado existe para superar as desigualdades. A recuperação do Estado é tema central do Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”, disse ao comentar o programa lançado pela Fundação Perseu Abramo.
Artur, Ana e André acreditam que a financeirização é uma aposta que não gera crescimento, renda ou emprego, já que os grandes capitalistas preferem apostar na bolsa de valores e não no mercado local. E a crise até o momento atual é uma crise de recomposição das margens de lucro dos capitalistas brasileiros, que afeta mulheres e negros fortemente.
Assista a íntegra do Pauta Brasil aqui.
Pauta Brasil recebe especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates são realizados às segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.
O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido às quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.