"Nesse período o jornal [Correio da Manhã] estava com uns quinze coronéis lá dentro, fazendo a censura. Driblando os militares, fizemos miséria contra a censura lá dentro".[Pouco antes do golpe] Eu vim para São Paulo, onde o Edmundo Monteiro, do Diário de São Paulo, queria um redator chefe para assumir O Diário de São Paulo, O Diário da Noite e a parte do jornal da emissora. Era um empregão. Ele queria botar tudo isso em cima de mim, e eu queria só um naco disso, não queria tudo. […] Quando eu resolvi não ficar, o Chateaubriand, que já estava entrevado na casa amarela, me disse: "você não quer ir para Recife assumir O Diário de Pernambuco"? Queria derrubar o Arraes. Eu disse que era amigo do Arraes, gostava dele, eu teria dificuldades para escrever contra o Arraes. Ele disse que não sabia que os judeus eram românticos assim, quando tinha que escrever contra alguém podia ser amigo, escrevia contra e acabou. Tenebroso! Fui trabalhar numa agência de propaganda. Até ir para o Correio da Manhã trabalhar com o Peralva. Nós fizemos o jornal até o golpe. Com o golpe de 64 eles prenderam a dona Niomar, prenderam o Peralva, prenderam todo mundo. O cara com mais autoridade que ficou no jornal fui eu, que era o editor geral. É uma questão de honra, para um jornalista, não deixar o jornal morrer na mão dele. Eu reuni todos os chefes de seção do jornal e organizamos um comitê de autogestão. Organizamos e mantivemos o jornal. Não deixamos o Jornal do Brasil tomar os melhores repórteres do Correio da Manhã. Quando dona Niomar saiu da cadeia devolvemos o jornal inteiro. Nesse período o jornal estava com uns quinze coronéis lá dentro, fazendo a censura. Driblando os militares, fizemos miséria contra a censura lá dentro. Eles censuravam, abriam buracos de meia página, às vezes uma página inteira, mas não admitiam que saíssem em branco. Eu fiz um troço para eles e tiveram que trocar a equipe. Fui ao arquivo da Agência Nacional e peguei discursos velhos de generais sobre democracia, discursos demagógicos, de solenidades, sobre liberdade, às vezes bobos. General fulano de tal declara… Agência Nacional divulga… Eles olhavam e deixavam passar. No dia seguinte diziam: "o senhor nos enganou". Quando dona Niomar saiu da cadeia, a primeira coisa que fez foi me demitir. Eu fiquei surpreso, mas cometera um erro. Tínhamos demonstrado que o Correio da Manhã podia viver sem ela.


Trecho extraído de entrevista a Joaquim Soriano e Ricardo de Azevedo na Revista Teoria e Debate nº 18 (2º trimestre de 1992). Clique para ler a entrevista na íntegra.

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