O programa Pauta Brasil desta sexta-feira, 12 de fevereiro, teve Jorge Bittar na mediação da conversa com Glauco Arbix e Uallace Moreira sobre o futuro da inovação tecnológica no país, assim como a reindustrialização.

Glauco Arbix é professor de Sociologia da USP, coordenador do Observatório Políticas Públicas e Sociedade contra a pandemia da Covid-19. Para ele, o tema não é simples, “nem sempre a gente consegue acertar a bússola para enfrentar o que está acontecendo. O declínio na indústria brasileira é mais dramático. Desindustrialização prematura pela ação do governo brasileiro anti-indústria. O quadro não é agradável, há uma dificuldade enorme para as empresas produzirem”.

Segundo sua análise, se inicia a “decadência da economia baseada em combustíveis fósseis, o petróleo; as indústrias estão sendo obrigadas a trabalhar com economia sustentável tentando se livrar da herança do petróleo; e o ponto mais forte é o novo ciclo tecnológico, com destaque para a inteligência artificial, que já está presente em todas as cadeias e modos de produção mas ainda não sabemos o impacto na economia”.

Para ele, a tendência é termos “um mundo mais desigual, com poucos e bons empregos no topo da pirâmide mas uma grande massa de trabalhadores que vai ficar sem condições de encontrar emprego ou se encontrar, de menor qualificação e remuneração. Vamos passar por maus bocados”, disse.

Doutor e mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Uallace Moreira acredita que o maior problema é o debate sobre a desindustrialização porque é preciso saber quando o processo é natural ou não. Ela pode ser positiva, mas de forma acelerada e precoce, como é o caso da economia brasileira, não é bom.

“Não há nenhuma receita para resolver essa questão, mas podemos olhar para os exemplos de países asiáticos. Mas nosso processo de desindustrialização também causou um atraso tecnológico. Precisamos pensar políticas de reindustrialização, entender os setores, as condições de demanda e mercado, os atores e redes e as instituições correlacionadas, elencou o professor, lembrando que com isso “podemos entender a transferência de tecnologia, processos de inovação, que são aberturas de possibilidades para os países. Por exemplo, a indústria 4.0 é elemento fundamental para essa estratégia”.

Jorge Bittar ainda elencou a situação relacionada à pandemia, já que o país tem inclusive dificuldades de produção de EPIs, além da própria dinâmica do governo de desmonte das indústrias e da ciência e tecnologia. E não deixou de falar sobre o Plano de Reconstrução do Brasil, que pode colaborar com esse debate.

Para o professor Glauco, “as universidades passaram a enxergar a realidade para atuar em várias áreas. Nós temos capacidade, a indústria, no entanto, o Brasil ficou para trás e corremos o risco de perder a chamada revolução 4.0. A indústria brasileira perdeu a capacidade de gerar, copia apenas e passou a ser importadora. Tem como recuperar. O primeiro passo seria absorver conhecimento, ter abertura da economia brasileira que consiga movimentar as empresas brasileiras e tira-las da comodidade em que se encontram. Sem competição, estamos fritos. Estamos pagando um preço muito alto e estamos muito atrasados. Além de governo, precisamos de apoio da sociedade”.

Uallace ressaltou a CEITEC, a empresa fabricante de semicondutores (chips) criada pelos governos do PT que Bolsonaro pretende fechar. Para ele, é também elemento essencial “a parceria entre as universidades e empresas, como fez a Coreia do Sul. E também fortalecer o mercado interno, um instrumento de negociação com as empresas, com ações que exijam contrapartida na troca de tecnologia”.

Assista a íntegra do programa aqui.

Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.

Recuperação da indústria depende da união entre universidades e empresas