A completa inoperância e falta de gestão do governo Bolsonaro no enfrentamento da crise econômica, que já atinge 14 milhões de desempregados e 15 milhões de desalentados, e da crise sanitária relacionada à Covid-19, que já ceifou quase 235 mil vidas no Brasil, faz com que outros assuntos fundamentais tenham menor destaque na pauta nacional. Entretanto, sempre que temos notícias sobre os caminhos da educação brasileira no governo Bolsonaro, o que se constata são retrocessos, agressões à autonomia universitária, obscurantismo e tentativas deliberadas de censura.

Não bastasse o descaso com os milhões de participantes do Enem de 2020, que tem como triste marca o maior índice de faltantes da história e, ainda assim, com relatos de participantes que foram impedidos de realizar as provas em razão da falta de planejamento logístico do Ministério da Educação de Bolsonaro, a nova celeuma envolvendo o exame dá conta de que as provas passaram por uma tentativa de censura e patrulha ideológica do governo. Matéria do jornal O Globo, desta quinta-feira (11/2), revela que uma comissão de censores desaconselhou o uso de 66 questões na prova e sugeriu a troca do termo “ditatura” por regime militar em uma das questões.

É inaceitável que o Enem, transformado nos governos do PT em um exame acolhedor, inclusivo e no caminho de oportunidades para a educação superior, seja submetido a qualquer tipo de censura, patrulha ideológica ou tentativa obscurantista de reescrever a história. Os itens das provas do Enem devem ser elaborados por um grupo de especialistas, sem qualquer tipo de censura ou pressão. Além disso, devem passar por pré-teste, a fim de assegurar a calibragem da prova e garantir o uso da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Interferir em uma questões que já foram pré-testadas agride o rigor com que as provas do Enem devem ser formuladas.

Infelizmente, os arroubos antidemocráticos e autoritários de Bolsonaro na educação não param por aí. O presidente insiste em agredir a autonomia universitária, princípio secular das universidades em todo o mundo, e não nomear os reitores mais votados em suas respectivas comunidades acadêmicas. O caso mais recente foi da UFSCar, que desde 1983 matinha a tradição de ter como reitor aquele que foi eleito pela maioria da comunidade acadêmica. Com mais esse arbítrio, Bolsonaro coleciona a inacreditável marca de 14 reitores interventores nas universidades federais.

Por esses e outros absurdos é preciso dar um basta ao autoritarismo de Bolsonaro. A educação precisa voltar a respirar ares de liberdade, de democracia, de autonomia, de humanismo e de pluralismo de ideias, pilares fundamentais das universidades e da construção do pensamento científico. Tenho convicção que, como em outros momentos críticos de nossa história, a educação não faltará ao país e sairá na frente na luta pelo impeachment do governo obscurantista e negacionista de Bolsonaro.

Aloizio Mercadante é ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo

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