A socióloga Luiza Bairros é titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), empossada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 1º de janeiro de 2011. Luiza Bairros  deu esta entrevista ao portal FPA durante o seminário A mulher e a mídia (2 a 4/12/2010), do qual participou como secretária de Promoção da Igualdade da Bahia (Sepromi). 

A socióloga Luiza Bairros é titular da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), empossada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 1º de janeiro de 2011. Luiza Bairros  deu esta entrevista ao portal FPA durante o seminário A mulher e a mídia (2 a 4/12/2010), do qual participou como secretária de Promoção da Igualdade da Bahia (Sepromi). 

Portal FPA – A sra. defende o empoderamento das mulheres como forma delas, de fato, exercerem o poder. O que isso significa?

Luiza Bairros  – O poder é masculino e a sua própria definição é masculina. É preciso trabalhar a noção de poder junto com o conceito de mulher para levar ao empoderamento. O empoderamento é um processo, que só se realiza como algo que é coletivo. Não existem mulheres que em si mesmas são  poderosas, mas que podem ocupar o poder na nossa perspectiva, no sentido de mudar a situação das outras mulheres. E quando eu faço isso enquanto mulher no poder, estou empoderando outras mulheres. Ocupar cargo não é a mesma coisa que exercer poder.  Na medida em que tomamos como possibilidade essas definições e conceitos, redefinimos um pouco melhor o que quer significar quando diz que quer mais mulheres no poder.

Portal FPA – Qual é a relação entre mulher e mídia?

Luiza Bairros  – Quando a mulher aparece na mídia, parece que falta à ela capacidade de criar fatos políticos importantes que fossem merecedores de alguma atenção dos meios. É como se faltasse um media trainning eficiente para sabermos como comunicar as coisas que consideramos importantes.  Nada disso pode ser usada como causa da nossa ausência, ou da nossa presença distorcida. O que precisa ficar evidente são as escolhas política que fizemos – de combate ao racismo, de combate ao sexismo que é profundamente antissistêmica. Não podemos, a partir dessa condição, achar que teríamos que ocupar os meios em igualdade de condições com o restante. A necessidade é procurar um lugar dentro nesse debate, onde não nos tornemos vítimas  dessas condições que queremos combater como a desqualificação permanente das mulheres, das mulheres negras, do que queremos combater.

Portal FPA – O que é o deslocamento de identidade ao qual a sra. se refere nas suas palestras?
Luiza Bairros  –
Até então vivíamos numa sociedade onde o sujeito branco, homem ou mulher, era o sujeito universal, o branco nunca precisou se nomear como raça, e do mesmo modo os homens nunca se colocaram dentro dessa equação de gênero, a ponto de durante muito tempo usarmos gênero como sinônimo de feminino. Não há dúvida que existe uma identidade racial branca, que em princípio, foi forçada a emergir na sociedade brasileira nos últimos anos, como consequência da ação do movimento negro e que mostrou sua face mais perturbada, no contexto contra as ações afirmativas, as cotas raciais. É quando o racismo é exercido sem qualquer etiqueta.  
Um processo muito semelhante ocorreu com a candidatura de Dilma à Presidência da República, com a questão de gênero. Aquele processo todo que aconteceu é fruto de um deslocamento de identidade masculina, forçada agora a emergir com sua verdadeira cara, obviamente porque  está em jogo a presença da mulher dentro do maior cargo no país exatamente no momento em que o Brasil muda a sua posição no cenário internacional.

Portal FPA – A sra. afirmou que o sexismo e o racismo praticado nos dias de hoje são diferentes daqueles de 10 anos atrás.

Luiza Bairros  – A ação dos movimentos sociais transformou a sociedade. Fez com que certas demandas por igualdade, respeito, por direitos de uma maneira geral – tanto por negros, mulheres – acabassem se transformando em agenda de política pública. Não podemos mais afirmar que  o racismo e o sexismo se exercem da mesma maneira. Hoje o Estado já assume uma parte no combate à desigualdade. Mas, ao mesmo tempo, setores mais conservadores da sociedade se manifestam atualmente de forma mais virulenta do que faziam antes.

Portal FPA  – São essas agressões contra homossexuais, os ataques às mulheres nas faculdades?
Luiza Bairros 
– Todos esse episódios que  a mídia tem relatado, são só a ponta de um fenômeno bem mais espalhado na sociedade. As discriminações se manifestam agora sem nenhum tipo freio, que hoje chegam ao ponto da violência física, como se tem visto em relação aos homossexuais, às mulheres – os assassinatos de mulheres no Brasil inteiro vem com requintes de crueldade cada vez maiores, e também em relação à pessoas  negras – a violência racial,  que se manifesta no assassinato moral, na  pressão psicológica às pessoas negras,  no fato  de assistirmos no Brasil um nível crescente de homicídios, principalmente entre jovens negros. Isso dá bem a medida da desvalorização da vida do jovem negro.

Portal FPA – O que a sociedade pode fazer para mudar esse quadro e  quais são os desafios para superar o preconceito que veio à tona na campanha eleitoral, pelo fato de termos uma candidata mulher?
Luiza Bairros –
Vejo várias possibilidades de intervenção. Num primeiro momento, os  movimentos sociais devem se organizar cada vez mais para fazer com que essas denúncias repercutam mais e mais na sociedade, para que estes casos todos gerem discussão em todos os lugares.  É preciso, da parte do Estado brasileiro e dos governos  enquanto representação de Estado, uma manifestação permanente de reprovação de todos esses atos. Acredito que precisamos fazer investimento muito grande naqueles conteúdos que  hoje são repassados nas redes públicas e estaduais de ensino. Não é mais possível se manter com uma educação cujo conteúdo não atente para essas mudanças pelas quais a sociedade passou. Se a educação publica é aquela através da qual vou formar o cidadão para essa sociedade nova, ela precisa  incorporar esses ganhos de conhecimentos trazidos pelas lutas sociais.

 

Atualizado em 13/01/2011