Na quarta mesa apresentada durante o seminário A mulher e a mídia, realizado no Rio de Janeiro de 2 a 4 deste mês foi abordado o tema da percepção da sociedade sobre a presença das mulheres na política. “Dilma terá duplamente mais dificuldades de governar o país. Temos o dever de segurar esse mandato, porque ele é nosso", disse a psicóloga Vanda Menezes, integrante da Rede Mulher & Democracia (Alagoas). para ela, o Seminário A Mulher e a Mídia é um espaço privilegiado para discutir o que ocorreu durante o processo eleitoral, principalmente em relação à mídia.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, acompanhou as pesquisas eleitorais feitas pelos institutos Datafolha, Sensus, Vox Populi e Ibope, e concluiu que "o eleitorado feminino jogou a eleição para o segundo turno", pelo fato de 2/3 dos votos terem sido dados às candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva, o que significou quase 68 milhões de votos. Segundo José Eustáquio, o mito de que mulher não vota em mulher é falso. Quanto a outro mito, o de que as mulheres são indecisas, ele discorda: "costumo dizer que as mulheres não são mais indecisas, elas são exigentes". Ele também enfatizou que as mulheres não são mais conservadoras, elas são mais excluídas.

Debate sobre o aborto legitimado na sociedade
Para a socióloga Fátima Jordão, consultora da TV Cultura e diretora do Instituto Patrícia Galvão, o debate sobre o aborto durante a campanha eleitoral, principalmente no segundo turno, resultou em um acúmulo até então nunca visto. Para Fátima, “o debate sobre o aborto adquiriu legitimidade na sociedade, nunca esteve tão dentro da sala das pessoas. Deixou de ser palavra ou tema interditado. Isso é uma mudança histórica e cultural importante. Daqui pra frente o debate tem outras implicações que nos favorecem”.  A questão do aborto, segundo ela, é um dilema para as mulheres e isso ficou evidente durante a campanha eleitoral. O tratamento dado à questão levou as mulheres a decidir a eleição em favor da Dilma".

O cientista político Gustavo Venturi, professor do Departamento de Sociologia da FFLCH/USP, apresentou os resultados preliminares da pesquisa Mulheres brasileiras nos espaços público e privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC Nacional e SESC SP em 2010. A pesquisa que o cientista coordenou revelou que 70% das mulheres acreditam que a política seria melhor se houvesse mais mulheres em postos importantes. 49% dos homens concordaram com essa questão. Em relação aos resultados da mesma pesquisa realizada em 2001, as mulheres hoje estão mais confiantes no preparo das mulheres para governar. Em 2001, 59%  concordavam com isso, e em 2010 são 78%.  Ao serem indagadas sobre o baixo número de mulheres na política, as razões apareceram: machismo, preconceito/discriminação, falta de confiança e de oportunidade, entre outros.

Sobre potencial de voto nas eleições de 2010, Venturi disse que na pesquisa, as maioria das mulheres disse que votariam votar num candidatos negro/a ou mulher, mas a intenção de voto começa a cair se o candidato defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo, se participou da luta  armada, é a favor da pena de morte, da Umbanda e do candomblé

A mídia nas eleições foi o tema da psicóloga Rachel Moreno, pesquisadora do Instituto Opinião. Para ela, o tratamento dado pela mídia à candidata Dilma Rousseff mostrou como a mulher é tratada pelos veículos de comunicação no país. "Sobre Dilma, quais foram as informações veiculadas durante a campanha? Primeiro a doença, depois a peruca, o crescimento do cabelo, que era desconhecida – e depois fez uma devassa em sua vida –, que era marionete de Lula, depois que era durona.  Foi um festival de fofocas sobre a vida cotidiana da candidata. E a última tentativa foi a questão do aborto, que ganhou um aliado em termos de disseminação popular: o padre na missa.”
 

 

Atualizado em 10/12/2010