O programa Pauta Brasil desta sexta-feira, 29 de janeiro, ouviu Guilherme Mello, economista e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, e Nelson Barbosa, ex-ministro do Planejamento e da Fazenda do Brasil no governo Dilma Rousseff, sobre o futuro da economia do Brasil em 2021. Com mediação de Marcio Jardim, diretor da Fundação Perseu Abramo, o programa abordou as perspectivas possíveis, o cenário atual, que inclui aumento da concentração de renda, da desigualdade, a desindustrialização do país e as possíveis saídas.

Para Nelson Barbosa, “a expectativa de crescimento de 3% já tem revisão para baixo no começo do ano. O resto do mundo vem forte em 2021, mas nosso problema é interno. É uma grande recessão que poderia ser muito pior, a política fiscal de países como Argentina e México ajudou inclusive as contas públicas destes países. Num contexto de recessão a política fiscal dá certo”, explicou

“O governo resolveu que o Brasil não precisa de estímulo fiscal, não tem Auxílio Emergencial, programa de manutenção de empregos formais, Banco Central está retirando uma série de estímulos e sem um plano de vacinação para toda população. A economia está desacelerando e a expectativa do mercado é que a economia tenha uma recessão técnica, queda por dois semestres seguidos. Isso é resultado da retirada súbita de todos estímulos de uma vez”, disse Barbosa.

De acordo com a análise, o resto do mundo estará forte e por motivos ideológicos do governo brasileiro as projeções são pessimistas, mas poderiam ser mudadas se o governo quisesse. “Já chegamos no fim de janeiro, as medidas foram canceladas, se o governo decidir agir, infelizmente teremos perdido o primeiro trimestre”, lamentou.

Guilherme Mello analisou que a possibilidade de cenário bom está muito longe de ser alcançado. Dependeria da vacinação acontecer e mudanças graduais, planejadas. “A proposta orçamentária nem está aprovada ainda. Estamos em um cenário ruim (recessão no primeiro trimestre), se a gente conseguir vacinar e superar a segunda onda, voltamos a crescer no quarto trimestre e acabamos o ano no zero a zero. Cenário feio é se a vacinação atrasar ainda mais, porque poderemos viver até uma terceira onda, junto com a manutenção de tetos de gastos e não retomada de medidas sociais”.

Nelson Barbosa alertou que o governo Bolsonaro quer tirar da saúde e educação para manter o Auxílio Emergencial. “O mundo tem feito e recomenda: tributação sobre os mais ricos. Nessa crise aconteceu também que subiu a renda dos mais ricos. A Inglaterra do Boris Johnson vai taxar a riqueza e com isso garantir políticas sociais para a população de baixa renda. Biden também anunciou algo semelhante em debate nos Estados Unidos. Não dá para manter o auxílio para sempre, mas dá para fazer um bolsa família com tributação progressiva, melhorando o foco do programa”, comentou.

Segundo Mello, “duas coisas se comprovaram com a crise: a transferência de renda, que possui alto fator multiplicador e é a forma eficaz para combater a concentração de renda; e que é um mito de que o dinheiro acabou”. Mello e Barbosa concordam que o Auxílio “não pode ser mantido eternamente, mas que é essencial agora e é preciso ampliar com mecanismos de financiamento”.

Barbosa também alerta que no meio de uma crise não é o momento de aumentar impostos muito rápido, mas pode ser gradual sobre Imposto de Renda e herança. Mas cobrou agilidade do governo e do Congresso na apresentação de propostas para “manter políticas de estímulo e começar com as que sejam de reconstrução. Usar o espaço fiscal e discutir a tributação mais justa para entrar em vigor a partir de 2022”.

Guilherme relembrou que a Fundação Perseu Abramo lançou o Plano de Reconstrução do Brasil, com três etapas: a emergencial, a de saída das crises ou de reconstrução e a de transformação, essa sim estrutural. “Se tivéssemos feito tudo certo, estaríamos discutindo outras coisas, com vacinação mais avançada. O governo se mostrou incapaz de gerir uma crise como essa. Investir em saúde e educação seria fundamental para a reconstrução neste momento”.

Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.

 

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