Uma tragédia humanitária. Assim Eliane Cruz definiu nosso momento na pandemia durante a abertura do programa Pauta Brasil desta quarta-feira, 20 de janeiro, que discutiu vacinação e pandemia. Além de Cruz, coordenadora do setorial nacional de Saúde do PT, participaram Gonzalo Vecina, médico sanitarista, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e ex-presidente da Anvisa, e Adriano Massuda, médico sanitarista, com doutorado em Política, Planejamento e Gestão em Saúde pela Unicamp.

Para Gonzalo Vecina, “precisamos de muita informação para entender o que está acontecendo e o que virá a acontecer”. E admitiu que não imaginava que viveríamos uma crise sanitária deste porte, relatando que a pandemia da Covid-19 será muito maior do que foi a Gripe Espanhola.

Para ele, não estamos vivendo uma segunda onda. “Estamos num contínuo e por que? Porque as autoridades federais, estaduais e municipais foram irresponsáveis com os relaxamentos”, lembrando que ainda hoje o presidente da República desdenha das mortes e alega que é necessário abrir a economia.

A crise sanitária é enorme assim como os números das mortes em Manaus, com gargalo no atendimento, nos cemitérios, a falta de oxigênio, o mercado paralelo criminoso de venda de oxigênio na cidade, todos fatos de total responsabilidade do presidente Bolsonaro, segundo Vecina, que também reafirmou a necessidade de combater a desigualdade social, “o maior mal do Brasil”.

Adriano Massuda foi um dos formadores da Ação de Força Tarefa do Ministério da Saúde, na gestão do ministro Alexandre Padilha. A análise dele parte da somatória de dois fatores: desgoverno atual e desigualdade social muito alta. “Só estamos atrás dos Estados Unidos, país mais rico do mundo porém muito desigual e também com governo irresponsável, que menosprezou a pandemia, são muito similares”.

“Para vencer uma pandemia precisamos de ação pública. O país poderia ter adotado outras políticas, aprendido com exemplos de outros países. Faltou ao Ministério da Saúde autoridade sanitária, a gente não precisava estar vivendo o que estamos passando”, disse Adriano.

O desmonte da saúde pública iniciada com o Michel Temer, continuada por Bolsonaro, foi impactante para enfrentar a pandemia e mesmo assim o SUS conseguiu operar de modo que a tragédia fosse um tanto menos grave. “Tínhamos condições de ter fortalecido o SUS e ter evitado mortes. Pode e deve piorar, a transmissão aumenta com afrouxamento do isolamento. O que aconteceu em Manaus está acontecendo em várias outras regiões, de afrouxamento de distanciamento social, aumentando a transmissão e a demanda pelo sistema de saúde. Neste momento, além da Covid-19, outras doenças crônicas que não foram tratadas irão sobrecarregar o sistema, assim como o aumento de acidentes de carro.

A vacina, sem dúvida, foi a melhor notícia do início do ano. Para Adriano, no entanto, como ainda não temos vacina para toda população, haverá uma tendência a mais relaxamento nas medidas ainda necessárias: distanciamento social, uso de máscara, higiene.

Adriano lembra que é necessário que o Ministério da Saúde assuma seu papel fundamental para realizar a vacinação nacional, assim como lutar por mais recursos e valorizar o SUS.

E o Brasil tem vacina?

Para Vecina, tanto Fiocruz quanto Butantã têm no horizonte duas vacinas, mas nenhuma destas teve ação do governo federal. Além de não ajudar, Bolsonaro ainda tem causado problemas diplomáticos com fornecedores importantes de matéria-prima, como a China. Ele acredita que teremos vacina no decorrer de 2021. “Temos 160 milhões de pessoas para vacinar, precisamos de 320 milhões de doses. Temos condições de chegar à imunidade de rebanho em dezembro de 2021”.

Adriano Massuda acredita que estamos pagando o preço de opções erradas, a começar pela eleição de Bolsonaro, o nível atual do Itamaraty, um Ministério da Saúde que não aponta os caminhos, o desmonte de laboratórios públicos que poderiam estar ampliando a capacidade de produção vacinal, para assim “o Brasil imunizar sua população e ainda vender vacina para os outros países”, disse.

Propostas

Eliane anunciou durante o programa algumas ações para o futuro. A primeira foi que o PT ingressou com ação no Supremo Tribunal Federal pela reabertura da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobrás, no Paraná, que poderia estar produzindo 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora. Isso daria para encher 30 mil cilindros hospitalar pequenos, com capacidade média de 20 inalações de 10 minutos. A fábrica foi fechada há dois anos por Bolsonaro.

A luta pelo Fora Bolsonaro também está na lista de prioridades assim como a continuidade do Auxílio Emergencial, que para Gonzalo Vecina, em caso de não haver distribuição de recursos para os que não têm, veremos o agravamento da fome e da morte. “Temos que cobrar de nossos representantes uma solução para a crise sanitária que estamos vivendo, para que o país não piore”, disse.

Adriano acredita que a pandemia deixará várias feridas e muitas lições. “O Brasil e o mundo precisam se ressignificar, vencer a desigualdade, mas em primeiro lugar, Fora Bolsonaro”.

Pauta Brasil

Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.

O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.

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