20 de janeiro: 50 anos do assassinato de Rubens Paiva
Sou amigo da família Paiva há quase cinquenta anos e acompanhei bem de perto toda a tragédia, sentimento de dor e de profunda injustiça gerados pelo desaparecimento de Rubens Paiva.
Rubens Paiva e Dona Eunice tiveram cinco filhos, dentre eles a Vera Sílvia Facciolla Paiva, Veroca, que militou comigo no movimento estudantil desde 1973. Também estive muito próximo de toda a trajetória do talentoso Marcelo Rubens Paiva, do acidente e de toda a luta da família.
Portanto, quero expressar o sentimento de indignação, injustiça e impunidade que cercam esses cinquenta anos da prisão, desaparecimento e assassinato do jovem e combativo parlamentar Rubens Paiva.
Rubens Paiva iniciou sua vida política no movimento estudantil. Cursou engenharia na Universidade Mackenzie, em São Paulo, foi presidente do Centro Acadêmico e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo. Em 1962, foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Na madrugada do dia 1º de abril de 1964, fez um discurso convocando os estudantes e sindicalistas a resistirem ao golpe militar, em favor do presidente deposto, João Goulart. Imediatamente, teve seu mandato cassado.
No dia 20 de janeiro de 1971 o Estado brasileiro sequestrou e assassinou Rubens Paiva. Somente em março de 2014, graças ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade, que jogou luz sobre este e outros casos, foi possível saber o que aconteceu com Paiva.
O capitão à época Raymundo Ronaldo Campos, hoje com 85 anos, disse que recebeu ordem para montar uma operação e simular a fuga de Rubens Paiva. O coronel reformado Paulo Malhães, que morreu em 2014, afirmou que restos mortais foram enterrados na praia, na região da Barra da Tijuca, e posteriormente retirados. O Ministério Público cita depoimentos de dois militares ao afirmar que Antonio Hughes de Carvalho, integrante da equipe de interrogatórios que morreu em 2005, participou da sessão de tortura.
A história da morte de Rubens é uma das que mostram como a ditadura e a repressão foram cruéis e sanguinárias.
Um abraço à querida amiga Veroca, ao Marcelo Rubens Paiva e a toda a família, aos amigos e todos que lutaram e continuam lutando para que esse crime seja esclarecido, os responsáveis identificados e punidos por esse bárbaro crime.
Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-ministro da Educação, Casa Civil e Ciência, Tecnologia e Inovação.