Editora Fundação Perseu Abramo lança a 5ª edição do periódico sob o tema “Rebeliões: motim e negociação”. Evento reúne historiadores e militantes para bate-papo, em memória do marinheiro João Cândido.

Editora Fundação Perseu Abramo lança a 5ª edição do periódico sob o tema “Rebeliões: motim e negociação”. Evento reúne historiadores e militantes para bate-papo, em memória do marinheiro João Cândido.

Para celebrar o centenário da Revolta da Chibata, a Editora Fundação Perseu Abramo (EFPA) e o Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH) lançaram, na última segunda-feira (22), a 5ª edição da revista Perseu: História Memória e Política, que traz o tema “Rebeliões: motim e negociação”. O evento ocorreu na Livraria Expressão Popular, situada no centro da capital.

“Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu”. Nos versos musicais de Aldir Blanc e João Bosco ecoam artisticamente as forças e a importância sócio-política, de uma personagem ícone de um dos movimentos sociais do Brasil de 1910: João Cândido Felisberto. Nascido no Rio Grande do Sul, negro, filho de ex-escravos, militar da Marinha do Brasil e líder da Revolta da Chibata, o homem que tinha o mar como amigo, é um dos homenageados da nova edição da revista Perseu.

Editada pelo historiador e coordenador do CSBH, Dainis Karepovs, o periódico semestral, que chega às livrarias nesta semana, percorre historicamente e analiticamente o tema, com dossiês assinados por Álvaro Pereira do Nascimento, Alexandre Hecker, Lara de Castro, Anderson da Silva Almeida e Gustavo Venturi.

Sob o título de “A Revolta da Chibata e seu Centenário”, o primeiro dossiê relata e propõe uma nova abordagem, para a relevância do movimento organizado por mais de dois mil marinheiros, durante 22 a 27 de novembro de 1910, no Rio de Janeiro, então Capital Federal.

Ao denunciar os gritos de dores – provocados pelas aplicações de castigos físicos impostos como forma de coerção, as péssimas condições de trabalho, o racismo na Marinha de Guerra, exercitados e silenciados nos porões dos navios pelos dispositivos de poderes – os marujos colocaram em evidência duas problemáticas para as questões das lutas sócio-políticas daquele período: o real significado da Abolição da Escravatura em 1888 e a fraqueza nacional e internacional do recém-empossado Presidente Marechal Hermes da Fonseca.

Destaque para os documentos complementares da revista, que propõem um olhar para o 30º ano do assassinato, ainda impune, do seringueiro e presidente do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (AC), Wilson de Souza Pinheiro.

“PT 30 anos: Crescimento e mudanças na preferência partidária. Impacto nas eleições de 2010”, artigo assinado pelo sociólogo Gustavo Venturi, analisa as mudanças sociodemográficas do partido e dos eleitores petistas, nas últimas três décadas.

“Não podemos esquecer que aquela luta [Revolta da Chibata], era coletiva e que sonhava com um Brasil melhor e igualitário. Reduzi-la aos conceitos como terrorismo e comunismo, empobrece a nossa história, e não contribui para o presente, e principalmente, para o futuro”, alerta Anderson da Silva Almeida, autor do dossiê “Herdeiros do Dragão: A Rebelião dos Marinheiros em 1964”, que é doutorando em História Social da Universidade Federal Fluminense, referindo-se à atual inversão de ideologias, da recente campanha presidencial.

Questões que, assim como a revolta liderada por João Cândido, se fazem necessárias e urgentes, como objeto de reflexão e pensamento, para a continuação da construção dos processos democráticos, iniciados na recente história do país. Como cantou Elis Regina em “O Mestre-Sala dos Mares”: “Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história, não esquecemos jamais!”.