Os EUA têm uma dívida interna violenta, aumentada no período em que se precisou acudir a economia para enfrentar a crise de 2008.

Emitindo dólares, mata parte da dívida. Os detentores de títulos trocam T-Bonds por dólares. E ficam com o dinheiro na mão.

Os EUA têm uma dívida interna violenta, aumentada no período em que se precisou acudir a economia para enfrentar a crise de 2008.

Emitindo dólares, mata parte da dívida. Os detentores de títulos trocam T-Bonds por dólares. E ficam com o dinheiro na mão.

Parte desse dinheiro poderia ser reciclado internamente, com o sistema bancário emprestando a empresas, ou fundos investindo no mercado de capitais. Mas a economia americana está estagnada. O excesso de dólares, acaba provocando sua desvalorização, reduzindo ainda mais o peso da dívida americana e tornando seus produtos mais competitivos (porque mais baratos) no mercado internacional. E, obviamente, tornando mais caros os produtos de outros países.

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Analisando apenas esses aspectos imediatos, os EUA ganham nas duas pontas: reduzem a dívida pública e tornam seus produtos mais competitivos.

Globalmente, causa um terremoto. No comércio mundial, ao desequilibrar completamente o jogo.

Nas últimas décadas, os EUA foram o grande comprador mundial; a China, a grande exportadora. Os déficits americanos resultavam em superávits da China que, com seus dólares, adquiria títulos do Tesouro americano.

Agora tem-se as duas maiores economias globais engalfinhando-se no comércio mundial, em detrimento dos demais países.

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Haveria outras alternativas para a recuperação da economia norte-americana – como, aliás, sugeriu o Ministro da Fazenda Guido Mantega. Se os dólares fossem aplicados em programas internos de obras ou em assistência aos mais necessitados, entraria direto na economia real. Aumentariam as compras de produtos americanos, revitalizando a economia.

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Decidiu-se injetar o dinheiro diretamente no mercado financeiro, através da aquisição de títulos da dívida.

Esse enorme liquidez, empoçada, sai pelo mundo atrás de outras oportunidades de investimento. E aí, aposta em moedas e em ativos expressos em outras moedas: por exemplo, aplicações imobiliária de Hong Kong, Bolsa do Brasil, real. Tomam recursos nos EUA a um custo irrelevante e aplicam no Brasil recebendo juros mais a valorização do real (que implica ganhos para os investidores que trazem dólares).

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Entrando no país, esses dólares provocam uma valorização do real – e das moedas dos demais emergentes que recorrem ao sistema de câmbio flutuante e não colocam obstáculos ao jogo especulativo com sua moeda. Valorizando, os produtos internos ficam mais caros em relação aos internacionais. E esses países acabam perdendo competitividade em relação aos países que mantém suas moedas desvalorizadas (caso da China) ou dos que começam a desvalorizar sua moeda (caso dos EUA).

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Os próximos passos são complexos. Há uma grita mundial contra a decisão americana. Nos próximos dias, haverá a reunião do G20 em Seul, onde se discutirão formas de amenizar a guerra cambial.

Mas não se poderá esperar o resultado sentado. O Brasil tem a moeda mais valorizada dentre todas. Ou seja, entra no jogo já em desvantagem. Qualquer acerto para inibir desvalorizações cambiais deixará o Brasil sem condições de resolver o nó cambial.