O ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo Aloizio Mercadante foi entrevistado nesta sexta-feira, 30 de outubro, do DCM por Pedro Zambarda e Kiko Nogueira.

Indagado sobre a novidade do encontro entre Lula e Ciro, recentemente divulgado pelo O Globo, o dirigente da FPA lembra que o presidente Lula é conhecido por sua capacidade de diálogo e construção política inegável, sempre dialogou com as diferenças mantendo seus princípios inegociáveis. “Lula quer discutir uma frente ampla contra o governo Bolsonaro, que está devastando o país, deixando-o numa situação dramática política, econômica, social e sanitária, de isolamento internacional, e para isso ele vai buscar lideranças que tenham histórico incompatível com esse projeto e tenha um compromisso de reconstrução do país”.   Resgata a posição do ex-ministro Ciro Gomes nas eleições de 2018 e o histórico das relações de apoio e alianças entre PDT e PT. “Há uma base programática e hoje o PDT está claramente em oposição ao governo Bolsonaro. Quando se tem princípios e propósito a esquerda se aproxima. A divisão eleitoral municipal é passageira e tem de dar lugar a uma aliança sólida em primeiro turno até onde for possível e em segundo turno em qualquer cenário”, enfatiza.

Sobre o cenário político na América Latina e nos EUA, Mercadante falou sobre a vitória “acachapante” do MAS reagindo ao golpe de 2019 na Bolívia, pondera sobre as dificuldades sociais e econômicas vividas pelo país, mas confia que tem condições de avançar. Aposta que a esquerda também seja vitoriosa no Equador, além de aguardar com apreensão as eleições nos EUA com a provável derrota da extrema-direita.

Quanto às perspectivas da esquerda no Brasil, o dirigente partidário resgata a situação dramática da classe trabalhadora, base histórica do Partido dos Trabalhadores, com a perda de direitos e emprego, desmantelamento dos sindicatos, desindustrialização, o país retornando ao mapa da fome. “Os desafios do PT e da esquerda são imensos”, constata.

Mercadante considera fundamental a discussão sobre o teto de gastos. “Como retirar 8 a 9% do PIB da economia, em torno de R$ 600 bilhões para 2021? Impossível! O governo quer subtrair R$ 35 bilhões do orçamento da saúde”. Rechaça qualquer proposta ou tentativa de privatização do setor sempre retomada pelo governo e lembra que saúde é responsabilidade do Estado e que sem o SUS o país estaria vivendo uma tragédia ainda muito mais dramática. Reitera que é preciso ter políticas públicas, trabalho de base e reconstrução da organização popular, ter mais unidade. “Não dá pra repetir 2018.”

Segundo o economista, além de dar respostas à crise sanitária, o governo deveria estar se preparando para a possibilidade de uma segunda onda Covid-19, e daí talvez sejam necessárias duas vacinas. “O custo de uma vacina é em torno de R$ 25 bilhões e o governo quer tirar R$ 35 bilhões do SUS. Parte da mobilização contra a vacina é para não ter demanda por vacina, pois o governo não quer produzir. Não é só negacionismo e ignorância, tem perversidade nisso.” Para Mercadante, o Brasil não terá vacina em 2021 para toda a população, mantidas as condições atuais. Então, segundo ele, o negacionismo é parte de uma estratégica irresponsável para que as pessoas se recusem a tomar a vacina e continuem se expondo. O Estado deve prover a vacina quando existir, mas o custo é muito alto.

A crise econômica, o governo querendo manter o teto de gastos, reduzindo o orçamento de saúde e educação. São 13,7 milhões de desempregados e mais 25,7 milhões sem emprego, sendo que 16,4 não procuram por causa da Covid-19. Em condição de desemprego estão 40 milhões de brasileiros. O cenário é dramático. Mercadante aponta que nesse quadro é preciso defender a saúde, priorizar a vida das pessoas, lutar para ter um Programa Bolsa Família fortalecido, defender o SUS. “Nem um passo atrás, foi o SUS que salvou a vida das pessoas. A campanha em defesa do SUS foi belíssima e o governo teve de recuar da loucura de tentar privatizar postos de saúde e UBSs”, destacou.

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