Desenvolvimento econômico sem agredir o meio ambiente, foi uma das pautas da discussão.

Por Gustavo Schor

O segundo módulo do I Seminário de Infra-estrutura para o Desenvolvimento Sustentável, realizado pela Fundação Perseu Abramo, em Brasília, teve como principal assunto a adequação das questões ambientais e sociais ao modelo de desenvolvimento econômico. A discussão pautou-se sobre a necessidade de ter competitividade nos mercados externo e interno sem, com isso, agredir o meio ambiente e deteriorar as condições sociais.

A integração da estrutura de produção e seu escoamento na América do Sul, por exemplo, esbarra nessa problemática. As rotas de ligação entre o Brasil e outros países andinos passam, necessariamente, pela floresta amazônica e áreas indígenas. Assim, segundo o secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini, é necessário planejar cuidadosamente as vias de acesso para realizar as obras com o mínimo de prejuízo aos habitantes e à natureza. “Vamos matar alguns passarinhos, isso é certo. Mas faremos o possível para contornar os impactos”, disse Mugnaini.

Para o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Roberto Langone, questões econômicas, ambientais e sociais devem ter um mesmo peso na avaliação do governo: “Não se pode direcionar o foco ao lado econômico e só então avaliar os danos que tal projeto causou”, ponderou. “A balança tem que estar equiparada e tanto os benefícios quanto os prejuízos devem ser avaliados dos dois lados. Não podemos assimilar a idéia do ‘mal menor´”, defendeu ele.

Os planos para a ligação infra-estrutural com a América do Sul, porém, já estão bem demarcados. De acordo com Mugnaini, o eixo de integração com Peru, para facilitar a exportação e a importação, deve estar consolidado em quatro anos. O projeto vai melhorar o abastecimento de combustível da região norte. “Hoje, é preciso trazer o produto de São Paulo. Fica muito mais barato importar do Peru, que é bem mais próximo” reiterou Mugnaini. Também vai facilitar o acesso ao Oceano Pacífico e diminuir os custos com o frete, tornando o produto brasileiro mais competitivo no mercado asiático, por exemplo. As vias que ligarão os países, por transporte rodoviário, ferroviário e fluvial, também intensificaram a importação de produtos. “A jazida de fosfato, para a indústria de adubo, e a farinha de peixe são produtos fortes do Peru, aos quais teremos acesso por um preço muito menor”, lembrou Mugnaini.

O terceiro membro da mesa, Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra, teve um discurso mais voltado para o social. Ele lembrou que o plano desenvolvimentista precisa ser revisto: “Nesses quarenta anos de modelo econômico afinado com o livre comércio a fome, a miséria e a exclusão social só aumentaram”, disse. Ele considera que as diferentes populações necessitam de planos de desenvolvimento orientados às realidades particulares. “Imagine Estados Unidos e Paraguai sentados numa mesma mesa para discutir comércio exterior. É preciso que haja igualdade de condições”, reiterou ele. Para Balduíno, é necessário levar em conta as necessidades locais e promover uma consulta minuciosa a todos os setores da sociedade. “Precisamos conhecer a necessidade de cada povo, de cada tribo”, reforçou.

O módulo II deste primeiro dia de painéis foi coordenado pela ministra da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro.

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