Queridas Companheiras e Companheiros

Há 20 anos, 42 partidos e movimentos progressistas da América Latina e do Caribe reuniram-se em São Paulo – convidados pelo Partido dos Trabalhadores –  para um Encontro sem precedentes na recente história política de nosso Continente.

Nascia o que um ano depois, no México, seria chamado de Foro de São Paulo.

Vivíamos tempos difíceis no início dos anos noventa.

Em muitos países ainda persistiam fortes marcas das  ditaduras que se haviam abatido nas décadas anteriores sobre nossos povos. Esses resquícios autoritários impediam a constituição de democracias vigorosas e dificultavam a luta dos trabalhadores.

Pairava sobre nosso Continente a hegemonia do ideário do Consenso de Washington.

Primazia do mercado, enfraquecimento do Estado, desregulamentação das relações de trabalho, sacrifício da noção de desenvolvimento e de políticas sociais em nome de uma  suposta estabilidade,  buscada a qualquer preço, com enormes sacrifícios para os trabalhadores do campo e das cidades.

A predominância dessas idéias conservadoras era reforçada pela profunda crise das referências tradicionais das esquerdas – as comunistas e  os socialdemocratas.  Suas  políticas não permitiam explicar a  realidade mundial mas, sobretudo,  mobilizar as grandes massas.

A reunião de São Paulo e tantas outras que se seguiram neste 20 anos tiveram como mérito fundamental criar um espaço democrático de conhecimento e de discussão das esquerdas. Esse espaço não existia, muitas vezes, nem mesmo em nossos países.

Não criamos uma nova Internacional.

Conhecíamos a história das internacionais e sabíamos que era mais importante termos um Foro no qual pudéssemos intercambiar experiências, discutir acordos, mas  também desacordos.

As transformações pelas quais passaram a América Latina e o Caribe nestas duas décadas têm muito a ver com os debates que realizamos.
Hoje, nossa região vive uma situação radicalmente diferente daquela de vinte anos atrás. Muitos dos que nos encontramos no passado nas reuniões do Foro de São Paulo como forças de oposição, hoje somos Governo e estamos desenvolvendo importantes mudanças em nossos países e na região como um todo.

Experiências como a UNASUL e a  Comunidade da América Latina e do Caribe são herdeiras dos debates que levamos no Foro. Elas abrem o caminho para uma verdadeira integração de nossos países fundadas sobretudo nos valores da democracia, do progresso econômico e social e da solidariedade.

Uns poucos tentam caracterizar o Foro de São Paulo como uma organização autoritária.

É o velho discurso de uma direita que foi apeada do poder pela  vontade popular. Não se conformam com a democracia de que se dizem falsamente  partidários.

A contribuição de meu partido e outros partidos progressistas do Brasil para esta nova realidade do Continente é de todos conhecida.
Nosso Governo retomou o crescimento, depois de décadas de estagnação.

Crescemos distribuindo renda. Incluímos 30 milhões de brasileiros que viviam abaixo da linha da pobreza. Criamos 14 milhões e meio de empregos formais e aumentamos substancialmente o salário real  dos trabalhadores e a renda do trabalhadores do campo. 

Mantivemos a inflação sob controle. Reduzimos nossa vulnerabilidade internacional. Não mais dependemos do Fundo Monetário Internacional. E pudemos fazer esta grande transformação com expansão da democracia,  aumento da participação popular e fortalecimento de nossa soberania nacional.

O Brasil mudou e vai continuar mudando nos próximos anos.  Mudou junto com seus países irmãos do Continente.

Mudou como está mudando a Argentina que agora acolhe mais este encontro do Foro de São Paulo.

Recebam, queridos amigos, o abraço do seu irmão e companheiro

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República Federativa do Brasil

Brasília, 15 de agosto de 2010.