A publicação Afro-Latino América, lançada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a organização Soweto no aniversário de 50 anos do golpe militar, traz em fac-símile as vinte edições originais da seção homônima publicada pelo jornal Versus durante o período de 1977 a 1979. Trata-se de um verdadeiro tesouro histórico e literário para quem deseja conhecer ou revisitar a luta do movimento negro durante a ditadura militar no Brasil.

O Versus – fundado em 1975 pelo jornalista Marcus Faerman e conhecido por seu estilo alternativo de contestação política – encartou o suplemento editado por uma geração de estudantes, ativistas e jornalistas antirracistas que se dedicava a contar e retratar a memória censurada de personalidades negras, além de denunciar as histórias do racismo cotidiano na resistência à ditadura.

A seção inaugural foi aberta pela jornalista negra Neusa Maria Pereira, nascida em 1925, e traz uma reflexão atualíssima, que expressa o pioneirismo do pensamento feminista à época, demarcado pela leitura de gênero, raça e classe: “A mulher negra pertence a uma das minorias raciais mais cruelmente vitimadas pelos castigos da divisão da sociedade em classes. Esta divisão é a maior responsável pela campanha de difamação sofrida pela mulher negra, considerada pelos representantes dessa sociedade de classes como objeto sexual de consumo. Há muito que nós, afro-brasileiros, estamos lutando para apagar esta mancha original e sair do lugar onde nos colocaram”. (jornal Versus nº 11, junho de 1977).

Os artigos do Afro-Latino América traziam ao público os protestos negros das ruas, a exemplo do texto de Hamilton Cardoso, que cobriu a manifestação de 7 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal, que inaugurou os atos do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, depois conhecido como Movimento Negro Unificado (MNU).

O suplemento também se dedicava a publicar notícias internacionais da luta da população negra contra a colonização na África e nas Américas, a exemplo do martiniano Frantz Fanon na Argélia, dos Panteras Negras nos Estados Unidos, de Steve Biko na África do Sul, de Amílcar Cabral na Guiné-Bissau e Cabo Verde, de Agostinho Neto em Angola, de Samora Machel em Moçambique e de Abdias do Nascimento no Congresso de Cultura Negra das Américas realizado na Colômbia, no Panamá e no Brasil.

Com 107 páginas, a publicação é apresentada por Flávio Jorge e Gevanilda Santos, diretores da Soweto e integrantes da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen). Uma leitura imprescindível para demonstrar a longevidade de nossos passos na luta pela emancipação do povo negro no Brasil e no mundo. Em especial nos dias de hoje, quando o poder estabelecido pelo golpe de 2016 ameaça as liberdades democráticas, tenta apagar a história do Brasil e que a luta antirracista volta às ruas com força total para exigir uma democracia real.

Créditos: Afro-Latino América

Disponível para download neste link.

Boa leitura!

Título: Afro-Latino América
Fac-símile  2014
105 Páginas
Editora: Fundação Perseu Abramo e Soweto

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