“Siga o dinheiro” (“Follow the money”, no original em inglês) – bordão eternizado pelo filme “Todos os Homens do Presidente”, de Bob Woodward e Carl Bernstein, lançado em 1976 – é o conselho do economista Ladislau Dowbor, professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a quem quer entender o funcionamento do sistema econômico.

Entender os caminhos que o dinheiro percorre parece uma tarefa difícil para qualquer trabalhador, até porque só uma pequena quantia chega a sua mão (ou conta bancária) e só fica por ali durante o breve hiato entre o recebimento do salário e o pagamento das contas que se acumulam. Parece, mas pode não ser tão complicado assim.

É isso o que mostra Dowbor no pequeno livro “Os estranhos caminhos do nosso dinheiro”, publicado pela Fundação Perseu Abramo em 2013 e disponível para download (clique aqui para baixar), que parte de perguntas inquietantes:

“Quem tem mais dinheiro é porque merece? Do ponto de vista dele (do dinheiro), provavelmente sim. Mas é saudável ter dúvidas. E isto nos leva à questão central deste pequeno estudo: como as pessoas chegam às suas fortunas? Através de que misteriosos mecanismos de levitação o dinheiro tende a ir sempre para cima? Por que razão quem tem mais dinheiro tende a juntar mais dinheiro, ainda que a sua contribuição para a economia seja medíocre ou negativa? Pecunia pecuniam parit, o dinheiro gera dinheiro, já diziam os antigos. Francamente, o problema não é de hoje. Mas entender os mecanismos ajuda, principalmente porque o parit é cada vez maior, e vai cada vez mais para os mesmos”.

E essas perguntas levam o leitor por uma viagem, que começa entendendo o que é dinheiro e passa pela contraposição entre público e privado, pelo papel do Estado no sistema econômico, por como se define e se manipula seu orçamento, pela formação da dívida pública, pelo papel dos rentistas, pelo spread (e cartel) bancário e pelos paraísos fiscais, até que chega à discussão sobre saídas para os problemas que enfrentamos, que passa mais por levantar questões relevantes do que por vender uma receita pronta.

Durante a leitura, o livro soa como um libelo pela transparência e pelo direito de que cada pessoa entenda seu papel como engrenagem – produtiva, que consome e paga impostos – que faz a máquina girar. O livro também tem a grande virtude de mostrar que nem tudo o que é legal é justo em um sistema político baseado em um sistema econômico bastante desigual em que o poder econômico domina as instituições e corações e mentes das pessoas que nelas atuam.

Como diz o autor, “ninguém coordena a alocação racional dos recursos neste sistema de vale tudo de intermediários, de pressões políticas imediatistas, de operações bilionárias de salvamento com dinheiro público, e de desinformação generalizada. Neste último plano, pelo menos, o da informação, é que agora estamos avançando a passos largos. O sistema está se tornando mais visível”.

E se desnuda também graças a livros como “Os estranhos caminhos do nosso dinheiro”, escrito por um tipo raro na academia, daqueles que produzem análises criteriosas como seus pares exigem, mas com uma linguagem direta e franca, que permite a qualquer leigo compreende-lo.

O livro é formado por capítulos curtos, mas brilhantes, e pode ser lido em uma tarde pelos leitores mais vorazes.

Boa leitura!

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