Greve da Scania, 42 anos: máquinas paradas nas fábricas do ABC
Há 42 anos, em 1978, trabalhadores do turno da manhã da fábrica de caminhões da Scania-Vabis, em São Bernardo do Campo (SP), bateram o cartão de ponto e cruzam os braços diante das máquinas. Era o início de uma onda de greves por melhores salários que iria tomar conta da região do ABC paulista e se espalhar pelo país nos meses seguintes.
O jornal Em Tempo nº 12, preservado pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda, traz em sua edição a reportagem: “As greves, na intimidade – um relato que revela a criatividade dos trabalhadores e as suas novas formas de luta.”. Uma notícia histórica contando a greve pelo ponto de vista dos trabalhadores.
A paralisação na Scania desafiava a lei antigreve da ditadura e surpreendeu os patrões por sua organização: sem piquetes e com a adesão pacífica dos quase 2.500 trabalhadores de todos os turnos. A principal reivindicação era um reajuste salarial de 20%, acima do índice oficial do governo, um desdobramento da campanha pela reposição salarial deflagrada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em setembro do ano anterior.
A diretoria do sindicato foi chamada pela empresa para intermediar a negociação com os grevistas. Em 15 de maio, uma assembleia dos trabalhadores rejeitou a proposta patronal de reajuste de 6,5% e deu prazo de três dias para que a empresa melhorasse a oferta. Naquela altura, a greve já tinha se estendido aos dez mil metalúrgicos da Ford e aos 1.500 da Mercedes-Benz. Na fábrica da Volks, a greve começou em um setor em que trabalhavam mais de mil operários. O sindicato conduziu as negociações caso a caso, como havia feito na Scania. Entre maio e agosto, cerca de 120 mil trabalhadores de 132 empresas do ABC paulista conseguiram aumentos e antecipações salariais, como resultado direto ou indireto do movimento grevista.
A primeira onda de greves dos metalúrgicos do ABC fortaleceu a organização dos trabalhadores em torno do sindicato e serviu de exemplo para outras categorias por todo o país. O modelo de negociação por empresa desconstituiu, na prática, a estrutura oficial de federações patronais e de empregados, que se limitava a aplicar a política salarial do governo. As greves sem piquetes, organizadas por comissões de fábrica, fortaleceram a organização por local de trabalho, que também não era prevista na legislação.
Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.