Na véspera da posse como presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica brindou os jornalistas estrangeiros com uma coletiva de imprensa na qual discutiu a função do Mercosul, que estaria "cheio de defeitos", segundo o presidente. Para ele, o Brasil é “o líder natural do bloco regional”. A cerimônia de posse inicia após o meio-dia, no Palácio Legislativo, onde Mujica fará seu juramento de fidelidade à Constituição. A posse acontecerá na Praça Independencia, em estrutura montada no centro de Montevideu.

Clarissa Pont (texto), Eduardo Seidl (fotos), direto de Montevidéu

MONTEVIDEU – A capital uruguaia trabalha para agilizar os últimos detalhes da cerimônia de posse do presidente eleito Pepe Mujica, que assume a chefia do Executivo nesta segunda-feira, na mesma ocasião em que mantém diversas reuniões bilaterais. Será a segunda vez consecutiva em que a Frente Ampla, força política que surge com o legado de numerosas tentativas de unificação da esquerda uruguaia e de experiências de unidade concretizadas fundamentalmente pelo movimento sindical, governa o país.

Em coletiva de imprensa realizada ao meio dia deste domingo (28) no Palácio Legislativo, Mujica fez ressalvas ao Mercosul e reafirmou sua intenção de “melhorá-lo para que se transforme em uma ferramenta de desenvolvimento real”. Entre os defeitos do bloco elencados por Mujica, está a falta de um mecanismo arbitral que impeça “que se mudem as leis do jogo conforme pressões internas”. “De todo modo, vamos seguir trabalhando duro para melhorar o Mercosul, porque temos espírito de integração e porque entendemos o bloco como uma ferramenta de desenvolvimento para os nossos países e povos”, disse.

“Sentimo-nos corretos e com muita sorte. O governo que se despede deixa o país com um conjunto de coisas importantes iniciadas, embora ainda tenha alguns problemas importantes”, disse o novo presidente. O vice-presidente Danilo Astori, que foi ministro da Economia do governo de Tabaré Vazqués e será o supervisor da política econômica no atual, disse que o Mercosul “carece hoje de coordenação das políticas macroeconÔmicas, além da revisão de medidas que prejudicam o Uruguai e o Paraguai”.

“Em geral por toda parte, quem lidera, paga a janta”, acrescentou Mujica, em referência ao que ele considera a posição de liderança do Brasil “como líder natural do bloco regional”. Segundo ele, o Brasil está comprometido a cumprir um papel fundamental na relação com o resto do mundo, em especial com a Europa, e grifou que as relações bilaterais entre Brasil e Uruguai “são muito profundas”. Segundo a Agência Brasil, a presença do presidente Lula na cerimônia de segunda-feira já está confirmada.

A jornada do novo presidente começa cedo, em sua chácara no Rincón Del Cerro. Às onze horas, a Secretária de Estado estadunidense Hillary Clinton encontra-se com ele no Palácio Legislativo para reunião e cumprimentos. Logo após, o protocolo oficial acontece no Palácio Legislativo, com o juramento junto a Lucía Topolanski. Depois de percorrer a Avenida do Libertador, onde frenteamplistas desfraldarão uma bandeira gigante do partido em frente ao prédio da prefeitura de Montevideu, Mujica segue a bordo de um veículo utilitário convertido para funcionar a eletricidade rumo a Plaza Independência. Ali, aos pés do monumento a José Artigas, delegações estrangeiras, cerca de oito mil jornalistas e milhares de pessoas são esperados para o ato que encerra com shows de Los Olimareños, Daniel Viglietti e da maurga La Catalina.

Entre os encontros previstos para o mesmo dia estão reuniões com os mandatários da Venezuela, Hugo Chávez, e da Argentina, Cristina Kirchner. Representantes colombianos confirmaram à Agência ANSA que Mujica deve encontrar-se também com o presidente Álvaro Uribe. O paraguaio Fernando Lugo, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa são outros presidentes com presença confirmada na cerimônia de posse. Correa permanece em Montevideo pelo menos até terça-feira (2) para receber, junto a autoridades da empresa petrolífera uruguaia Ancap, um navio com petróleo procedente de seu país. Ele recebe as chaves da cidade de Montevideu na mesma data e concede conferência na Universidade de la Republica sobre a crise econômica e as mudanças progressistas na América Latina. Outras autoridades esperadas para a posse são o príncipe Felipe de Astúrias, da Espanha, e o vice-chanceler italiano, Vincenzo Scotti. A chilena Michelle Bachelet cancelou sua presença devido ao terremoto que atingiu o Chile na madrugada do último sábado e deixou pelo menos 140 mortos.

 

Publicado na Agência carta Maior em 28/02/2010