O assassinato em 3 de janeiro de Qassem Soleimani, que era comandante das Forças Quds da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, abriu um novo capítulo de aumento de tensões no Oriente Médio. Sua morte foi em solo do iraquiano, com mísseis lançados por um drone dos Estados Unidos a um carro dentro do aeroporto de Bagdá, onde estava Soleimani.

Principal articulador da influência iraniana na região, o comandante tinha forte apoio popular, pois era lembrado como o principal nome que combateu o Estado Islâmico dentro do Iraque. Ele tinha boas relações com as organizações do Hezbollah no Líbano e com o Hamas na Palestina. Após a confirmação de sua morte, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a ação dos Estados Unidos, e o Hezbollah soltou notas prometendo retaliação.

Como resposta à morte de Soleimani, o Irã anunciou sua saída do Acordo Nuclear, firmado em 2015. Além disso, mísseis iranianos atingiram dois complexos norte-americanos no Iraque no último dia 8, não deixando vítimas. Na noite desse mesmo dia, com o espaço aéreo em alerta no contexto dos ataques, um míssil atingiu equivocadamente um avião civil que estava saindo de Teerã da Ukraine International Airlines, matando 176 pessoas, em sua maioria iranianas e canadenses. No dia 14, a Justiça do Irã mandou prender as pessoas envolvidas na queda no avião.

A ação dos Estados Unidos, comandada pelo presidente republicano Donald Trump, não teve apoio da oposição democrata. Os próprios republicanos também não esboçaram um apoio expressivo ao ataque. O secretário de Defesa, Mark Esper, admitiu no dia 12 que não tinha visto provas concretas de planos de Soleimani para atacar alvos estadunidenses, o que teria sido o motivo de seu assassinato.

Os aliados internacionais de maior peso dos Estados Unidos, como França e Reino Unido, não apoiaram o ataque e pediram ponderação dos dois lados. O Brasil, por meio do Itamaraty, soltou uma nota apoiando Trump e acusando o Irã de terrorismo, o que gerou mal estar com esse último e, como consequência, a encarregada de negócios do Brasil no Irã foi chamada para dar explicações. O país do Oriente Médio é nosso principal destino de produtos agropecuários, entre eles, por exemplo, a carne halal, que é abatida de acordo com as prerrogativas muçulmanas.

Ao que tudo indica, Trump mandou assassinar Soleimani para tentar ganhar mais popularidade frente a sua base eleitoral. Afinal, 2020 é ano de eleição no país, e ele é candidato à reeleição. Outro objetivo seria tirar da atenção da mídia e da população o processo de impeachment pelo qual está passando, o qual já foi aprovado pela Câmara dos Deputados.

Já no Irã as principais repercussões foram os protestos contra os Estados Unidos e o luto por Soleimani que, além de ser o principal expoente militar do país, também era cotado para ser candidato à presidência. Após o abate do avião, ocorreram protestos contra o governo, protagonizados principalmente por jovens universitários de classe média e alta.

O xadrez no Oriente Médio continuará a ser jogado, com Irã e os Estados Unidos disputando influência e territórios. Entretanto, uma guerra aberta entre os dois é, até o momento, uma possibilidade remota.

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