Terminou de forma frustrada, na última sexta, a Conferência pelo Clima da ONU (COP 25), em Madrid. A frustração se deu em relação aos avanços esperados, que ficaram basicamente para serem debatidos na COP 26, do ano que vem, na Escócia. O Brasil foi muito criticado por apresentar uma postura de ‘chantagem imatura’, alcunha esta dada por negociadores de outros países ao identificar que o país bloqueava pautas de discussão, prometendo, em reuniões bilaterais, liberá-las caso os ‘países ricos’ doassem recursos ao governo brasileiro, o que não aconteceu.

De fato, apenas alguns detalhes da regulamentação do Acordo de Paris foram resolvidos, como linguagem técnica, definições para reparação por perdas e danos climáticos e questões de gênero. O objetivo principal do evento, que era regulamentar o artigo do Acordo que trata da criação de um mercado de carbono para incentivar ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas ficou para o ano que vem.

Ao contrário do governo federal e dos representantes ruralistas brasileiros presentes, quem conseguiu avançar na pauta de captação de recursos foram o Consórcio Interestadual da Amazônia e a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que fizeram reuniões com representantes da Noruega, Alemanha e França e firmaram protocolos de intenções com este último. A intenção do Consórcio Amazônico é ter acesso diretamente aos recursos suspensos do Fundo Amazônia em troca do comprometimento regional de redução das emissões de carbono.

Com receio de não atingir suas próprias metas climáticas, o Brasil colocou em pauta uma vergonhosa proposta de dupla contagem das reduções de emissão de carbono, desejando contabilizar também para si os créditos de carbono que o país vende para outras nações, o que foi de pronto rechaçado pelos demais países, que acusaram o Brasil de atentar contra a integridade do Acordo de Paris.

A participação brasileira na COP 25 ainda foi coroada, ironicamente, pela Rede de Ação Climática, que contempla mais de mil ONGs ambientalistas do mundo, com o prêmio Fóssil do Ano, como o “país que mais atrapalhou o clima em 2019”. ‘Prêmio’ este que apenas escancarou o real resultado da delegação do governo federal no evento: a perda de seu capital político-ambiental acumulado nas últimas duas décadas.

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