Os incêndios no Pantanal, a maior planície alagada do planeta, cresceram quase 2.000% em outubro deste ano (2.430 focos de incêndio) em relação ao mesmo mês do ano passado (119). Somente no estado do Mato Grosso do Sul, cerca de 1,5 milhão de hectares foram queimados, algo como quinze cidades de São Paulo, em termos de área.

Esta já é a quarta catástrofe ambiental deste ano, após a quebra da barragem de Brumadinho, o grande desmatamento na Amazônia e o derramamento de petróleo no Nordeste. Naturalmente as catástrofes ambientais não são exclusividades brasileiras, mas o país, no entanto, chama atenção pela ineficiência ao combatê-las. E com esta última catástrofe não foi diferente. Somente as fortes chuvas do último fim de semana, daquelas de encharcar o solo, foram eficientes para controlar queimadas que já estavam em um patamar anormal desde setembro.

Os incêndios na região são anualmente rotineiros, mas em 2019 eles apresentaram proporções muito maiores e em diversas direções. Segundo o coordenador da Defesa Civil do estado do Mato Grosso do Sul, Fábio Catarinelli, 90% das queimadas são de causa humana, seja por ação ou omissão. Fazendeiros fazem uso das mesmas principalmente para limpar áreas de pasto, ou ainda para plantio, além de outros, que se aproveitam para a exploração irregular dos recursos naturais.

O desmatamento na Amazônia pode ter contribuído em algum grau para o alastramento destas queimadas, uma vez que a maior parte da umidade da região Centro-oeste vem do Norte do país. E esta foi uma primavera de baixíssima umidade relativa do ar na região central brasileira.

Talvez por possuir menor visibilidade do que a Amazônia, onde o governo somente atuou efetivamente após o caso se tornar escândalo internacional e gerar potenciais prejuízos ao agronegócio do país, os incêndios no Pantanal não receberam atenção adequada durante todo o período das queimadas. Apesar de eficientes, as brigadas de bombeiros eram insuficientes para conter o fogo. Somam-se a estes fatos os discursos e ações do governo de caráter permissivo às violações ambientais, e a maior valorização dada aos setores que exploram, muitas vezes ilegalmente, as florestas, criando inclusive expectativas neste público de que o que é ilegal venha a ser legalizado, ou pelo menos, não punido.

Mas a situação, nos dias atuais, sempre pode piorar, infelizmente. No dia 5 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro revogou um decreto de 2009, que proibia o avanço das plantações de cana-de-açúcar sobre os biomas pantaneiro e amazônico. Além do dano ecológico, há também o econômico, pois este decreto dava ao etanol brasileiro o diferencial ambiental no mercado mundial ao proteger biomas importantes, e aumenta o risco internacional de boicote ao açúcar brasileiro.

Em consequência das queimadas, estruturas foram danificadas e serviços públicos e de internet deixaram de ser oferecidos em alguns municípios da região. Estradas tiveram que ser evitadas. Hospitais registraram aumento no número de internados devido a inalação de fumaça. Além disto, foram identificados muitos animais mortos por asfixia da fumaça ou queimados, inclusive alguns já em risco de extinção, como a Arara-azul.

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