É possível dizer que houve no Brasil uma relação entre a recessão econômica e a mortalidade de adultos? E as políticas de proteção social, tiveram algum impacto em reduzir os efeitos negativos da recessão? É o que discute artigo de Thomas Hone, Andrew Mirelman, Davide Rasella, Rômulo Paes-Sousa, Mauricio Barreto, Rudi Rocha e Christopher Millett publicado na conceituada revista The Lancet.

O estudo utiliza dados do Ministério da Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para avaliar mudanças no nível de desemprego e mortalidade entre adultos (acima de 15 anos) no Brasil entre 2012 e 2017.

Os pesquisadores apontam que um aumento das taxas de desemprego de um ponto percentual estava associado, entre 2012 e 2017, a um aumento da mortalidade entre adultos, em especial por câncer ou doença cardiovascular e com efeito mais forte entre negros, homens e pessoas entre 30 e 59 anos. Entre 2012 e 2017, devido ao desemprego, ocorreram 31.415 “mortes em excesso”, segundo os pesquisadores, ou seja, não fosse pelo desemprego estas pessoas não teriam falecido.

Por fim, os autores mostram que em municípios com altos gastos em proteção social e saúde não foram observados aumentos de mortalidade devido aos efeitos da recessão. “Gastos com proteção social e saúde parecem ter mitigado efeitos negativos na saúde, especialmente entre populações vulneráveis. Esta evidência dá suporte para sistemas de proteção social e de saúde mais fortes globalmente”.

As evidências mostram o quão destrutiva foi a política de ajuste fiscal no país e como o gasto social impediu que os efeitos sociais fossem ainda maiores. Resta saber se a política econômica brasileira
está pronta a incorporar tais evidências científicas.

`