Bolsonaro acusa ONGs por queimadas, que são obra de desmatadores
Entre janeiro e 18 de agosto de 2019, ocorreram 72 mil focos de incêndio no Brasil, o correspondente a um aumento de 82% em relação ao mesmo período de 2018. Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia concentra 52,5% dos focos de queimadas deste ano.
O presidente Bolsonaro, ao encontrar-se encurralado pela desestruturação da política ambiental brasileira e pelo aumento do desmatamento, declarou que as queimadas estariam sendo feitas por ONGs para chamar atenção internacional – como de costume, o presidente não apresentou nenhuma prova ou evidência a respeito.
Na verdade, as queimadas estão sendo usadas para limpar a terra de áreas recém-desmatadas, majoritariamente para que seja utilizada para atividades econômicas como cultivo agrícola ou pastagem para gado – conforme apontado por estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). As constatações do Ipam também indicam elevada associação entre municípios desmatadores e elevadas ocorrências de queimadas, entre eles Altamira, Porto Velho, Lábrea e São Felix do Xingu.
Ao invés de acusar os ambientalistas pelos incêndios, Bolsonaro deveria repensar a desastrosa trajetória da política ambiental ocorrida em sua gestão. Ao abrir mão dos recursos provenientes da Alemanha e da Noruega para o Fundo Amazônia, Bolsonaro enfraqueceu todo o sistema de proteção das florestas brasileiras. Entre outros objetivos, o Fundo Amazônia financiava projetos governamentais para iniciativas de prevenção e combate a incêndios na Amazônia, bem como financiava ações do Inpe e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Dessa maneira, além dos grandes proprietários de terra da soja e do gado, a culpa pelo aumento das queimadas também pode ser creditada ao cruzar de braços do governo, que reduziu drasticamente o orçamento dos serviços prestados pelo Ibama e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os retrocessos do governo incluem corte de recursos para estruturação do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) e corte de mais de R$ 5 milhões para fiscalização e combate aos incêndios realizados pela ICMBio. Os cortes orçamentários obrigaram o governo federal a reduzir em quase 25% o total de brigadistas temporários contratados para conter as queimadas.