Jair Bolsonaro surpreendeu mais uma vez, dessa vez com a possível nomeação de seu filho, o senador Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a vaga da embaixada do Brasil nos Estados Unidos, em Washington, logo após completar 35 anos, no dia 10 de julho, idade mínima permitida para o cargo.

A vaga estava em aberto desde abril, quando o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, removeu do cargo o diplomata Sérgio Amaral. O diplomata Nestor Forster era considerado o favorito para substituir Amaral, e a possível indicação pegou de surpresa o próprio Itamaraty, que não foi consultado.

Eduardo Bolsonaro é advogado, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Economia e escrivão da Polícia Federal de carreira. Não tem experiência em relações internacionais, nem em diplomacia, muito menos para ocupar ou chefiar uma das embaixadas mais importantes para o país.

A notícia foi mal recebida até mesmo pelo círculo bolsonarista. O ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, reconheceu que o anúncio de Eduardo Bolsonaro causou polêmica. O ideólogo bolsonarista, Olavo de Carvalho, se posicionou contra a indicação de Eduardo, alegando que sua “missão” é liderar uma CPI no Congresso para investigar o Foro de São Paulo. A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), considera que sua ida para a embaixada trai o voto dos quase dois milhões de eleitores que o elegeram como deputado.

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos é “nepotismo”, prática ilegal que consiste em nomear parentes próximos para cargos, e o ex-embaixador nos Estados Unidos, Rubens Ricupero, um dos diplomatas brasileiros mais respeitados, afirmou que “trata-se de medida sem precedentes em nossa tradição diplomática e na história diplomática de países civilizados e democráticos” e criticou a nomeação como típica de “monarquias absolutas”.

No moderno mundo da diplomacia internacional, a prática de nepotismo com a indicação de parentes para assumir embaixadas só acontece em ditaduras ou pequenos países subdesenvolvidos e corruptos. Nenhuma das principais democracias do mundo segue esse precedente.
Em resposta às críticas, Jair Bolsonaro disse que o fato de a mídia criticar sua escolha indica que o filho Eduardo “a pessoa adequada” para assumir a embaixada do Brasil nos Estados Unidos e que, com ele, vai colocar o Brasil em lugar de destaque no cenário mundial. A embaixada norte-americana é considerada estratégica pelo governo, que quer estreitar os laços com Trump e alinhar a direita brasileira à nova direita mundial.

Com Eduardo Bolsonaro na embaixada dos Estados Unidos, o filho do presidente teria acesso privilegiado aos altos círculos do poder e a autoridades dos Estados Unidos e abriria as portas do Brasil, aos interesses norte-americanos. A nomeação ocorreria em um momento em que a diplomacia brasileira vem adotando posturas retrógradas e defendendo as posições mais conservadoras possíveis junto à Organização das Nações Unidas (ONU).

Se confirmada a indicação, Eduardo Bolsonaro terá de passar por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado, seguida de uma votação secreta. Dos atuais dezessete integrantes da Comissão responsável por analisar o nome, sete se disseram favoráveis à nomeação, seis disseram ser contrários, três preferiram não comentar e um não se manifestou. Se aprovado na sabatina e comissão, o plenário do Senado deve dizer se aceita ou não o escolhido pelo presidente, sendo necessário voto favorável da maioria dos 81 senadores – também em votação secreta.

Temendo a derrota, Jair Bolsonaro iniciou sondagem junto aos senadores que integram a Comissão e deve abrir uma ação junto ao presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) para tornar o cenário mais amistoso à oficialização da indicação. O momento, no entanto, é inadequado, uma vez que o Senado deveria se concentrar, na volta do recesso, nos debates sobre a reforma da Previdência.
Caberá aos senadores romper com o fisiologismo e nepotismo e barrar a indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada. A indicação afeta interna e externamente o Brasil e pode levar o país a um desastre do ponto de vista político. Está nas mãos do Senado romper com a matriz despótica do governo Bolsonaro e colocar o país de volta no ranking que prezam pela democracia.

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