A estabilidade que queremos
"É preciso atingir a armadilha que aprisionou o governo anterior, que foi a política de juros altos" Os questionamentos sobre o sistema de altas taxas de juros adotado pelo governo permearam todo o primeiro debate do seminário. Logo no início de sua exposição, o economista Maurício Borges Lemos, diretor do BNDES, falou sobre o problema macroeconômico do Brasil, que paga a mais alta taxa de juros do mundo. "Como financiar investimentos?", para Maurício, esse é o primeiro ponto a ser entendido. Segundo ele, é de acordo com os mecanismos de financiamento escolhidos que se determina as taxas de crescimento de poupanças, empregos e salários.
Assim, uma das alternativas seria consolidar os financiamentos a partir do mercado de capitais. Porém, um dos principais problemas do país é exatamente o mercado de capitais precário. Um dos fatores que mais contribuem para isso é a ausência de corporações brasileiras capazes de aumentá-lo. Para exemplificar, Maurício explicou que o mercado de capitais nos Estados Unidos tem o tamanho de 3 a 4 vezes o seu PIB, já por aqui, esse tamanho é menor que a metade do PIB. Assim, a solução seria investir num processo que consolidasse o mercado, no entanto, segundo Maurício, o Brasil tem excesso de poupança, mas não encontra aplicação no mercado.
Toda essa situação contribui diretamente para o aumento da dívida pública, que é muito maior que o mercado de capitais brasileiro, diferente, por exemplo, dos Estados Unidos, onde a entrada de capitais é de 6 a 7 vezes maior que sua dívida. Diante da falta de alternativas, a perspectiva é buscar mais segurança do que investimentos, ou seja, obter credibilidade para que a dívida não gere uma crise ainda maior.
De acordo com o economista, não deveriam ter sido deixadas de lado as oportunidades de constituir grandes corporações, como no anos 1990, com as privatizações. Mas em sua opinião, o Brasil tem vantagens em seus recursos naturais, por exemplo, o que pode ajudá-lo a crescer. No caso das corporações, restam alternativas como as empresas siderúrgicas brasileiras, que poderiam ter seu capital consolidado, já que é formado, em maioria, por fundos de previdência.
Para finalizar, Maurício deixou claro que esse é um campo que tende a se desenvolver, citando medidas que vêm sendo tomadas pelo governo Lula, como a concentração de recursos nos fundos de previdência, o que deve gerar maior participação nos investimentos.
O economista Amir Khair – convidado a comentar o tema – fez uma provocação, dizendo que as condições para o crescimento já estão dadas, resta apenas esperar respostas do governo: "É preciso atingir a armadilha que aprisionou o governo anterior, que foi a política de juros altos", disse, apontando a taxa de juros como a causa da inflação. Opinião polêmica e "arriscada" – como admite o próprio Amir -, já que o governo vem defendendo a taxa de juros exatamente para controlar a inflação. "Quem paga a taxa é o Tesouro Nacional. Temos 90% de despesas a mais com juros do que com folha de pagamento", justificou.
Mas Amir acredita que a inflação pode estar chegando a seu fim, devido ao aumento da concorrência internacional. Para ele, as mudanças no campo das importações e exportações afetam diretamente essa área. Os produtos importados, por exemplo, acabam influenciando nos preços no Brasil. Além disso, o país hoje vem exportando mais produtos industrializados, diferente do cenário anterior, quando sua maior exportação era de matéria-prima: "Este governo abriu perspectivas comerciais junto a países emergentes", declara.
Para ele, o governo Lula supera seu antecessor em todos os aspectos, mas principalmente no que diz respeito às finanças públicas. Porém, considera um erro que o controle da inflação não seja uma medida de governo, continuando nas mãos do Banco Central. Outro problema apontado pelo economista foi a questão da taxa Selic, que gera inflação por proporcionar mais oferta do que procura, o que desestimula o consumo. Mas Amir voltou a elogiar o governo, citando o Bolsa Família como um programa com alta capacidade de desenvolvimento e geração de consumo.
Em seguida, o ministro da educação, Fernando Haddad, enfatizou a importância de se fazer um balanço do governo com seriedade, e lembrou a situação da dívida pública em 2003, quando tinha o tamanho de 2 vezes em relação ao PIB. Para ele, a influência da taxa Selic na inflação não é tão alto quanto se fala, apesar de ter certo controle sobre ela.
Diante do contexto atual, Fernando disse que é preciso fixar uma meta que seja condizente com o objetivo do país. O ministro lembrou que hoje, o governo defende a redução da dívida com base no PIB, o que nunca foi uma meta explícita no governo anterior, preocupado apenas com o controle inflacionário. "Nosso governo entendeu que o patamar da relação dívida/PIB tornou a economia vulnerável", disse.
Falando um pouco de sua área, o ministro declarou que a retenção de recursos para pagamento de juros impede avanço maior na educação. Ele defende que a educação deve ser incorporada à agenda econômica do governo e ser tratada como eixo central. Com isso, pretende que o alto investimento na educação ajude a mudar o patamar do Brasil no cenário mundial.