Mudanças nas famílias têm alterado as relações de gênero em todo o mundo, com avanços de um lado e de outro persistência de desigualdades. É o que discute nova publicação da ONU Progresso das mulheres do mundo 2019-2020: famílias em um mundo em mudança.

Segundo a diretora executiva da ONU mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, as mulheres vêm sendo privadas de serem autônomas em nome dos “valores familiares”, mas o relatório da instituição mostra que as famílias (e seus valores) têm mudado.

Entre as mudanças mostradas pelo relatório, estão o aumento da idade média de matrimônio para as mulheres (na América Latina aumentou, de 1990 a 2010, de 22.7 anos a 23.6 anos), com queda das taxas de fecundidade (na América Latina, prevê-se que tenha caído de 2 para 5entre 1970-5 a 2015-20), o que aumenta as possibilidades de autonomia das mulheres.

Segundo os dados do relatório, cerca de metade das mulheres casadas entre 25 e 54 anos estão na força de trabalho, contra dois terços das mulheres solteiras na mesma faixa etária (para os homens, o casamento tende a aumentar a participação no mercado de trabalho). Também, ressalta-se que 8% dos domicílios em todo o mundo são monoparentais (a América Latina e o Caribe tem a taxa mais alta do
mundo neste quesito, de 11%), sendo as mulheres a vasta maioria dos chefes de família destes domicílios (no mundo, pais solteiros são somente 15% dos casos, sendo os outros 85% mães solteiras). Têm crescido também, em todas as regiões do mundo, as famílias formadas por pessoas do mesmo sexo. Os dados mostram que 38% das famílias em todo o mundo são o modelo de pai e mãe vivendo com filhos.

Para o Brasil, o relatório destaca o exemplo de uma família do interior de SP que passou a computar em uma tabela os valores de venda/troca de bens produzidos pelas mulheres da família, como frango, ovos e hortaliças, o que aumentou a visibilidade do trabalho das mulheres na família e alterou as dinâmicas de gênero.

Na América Latina e Caribe, ainda, o relatório destaca que dividindo as mulheres de 20 a 24 anos por quintil de renda, 6% das mais ricas deram à luz antes dos 18 anos, contra 30% das pertencentes ao quinto mais pobre.