Seminário internacional discute feminismo e neoliberalismo
Entre os dias 17 e 19 de junho , a Marcha Mundial das Mulheres realizará o seminário internacional “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”. A atividade reunirá militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.
Durante o seminário, serão temas-chave de debate o conservadorismo como tendência capitalista global, a captura corporativa do Estado, e, como resposta, a prática política a partir da Economia Feminista, da solidariedade, da construção internacional de movimento e do olhar para os comuns. Também será momento para reflexão a partir da apresentação de experiências locais, que denotam resistências e alternativas concretas.
Em tempos de popularização do feminismo, há uma discussão latente sobre os seus caminhos organizativos e também sobre os riscos da fragmentação, cooptação e banalização, que esvaziam seu caráter antissistêmico. Para isso, o debate internacional, entre mulheres que estão posicionadas dentro do feminismo organizado, é um espaço importante de formulação de sínteses e de ação política. Em 2020, a Marcha Mundial das Mulheres realizará sua 5ª Ação Internacional, sob a consigna “resistimos para viver, marchamos para transformar”, com processos de mobilização por todo o globo, para os quais o seminário certamente organizará insumos.
Estarão presentes lideranças feministas do Brasil, Moçambique, Honduras, Curdistão, Estados Unidos, México, Guatemala, Uruguai, Chile, Argentina, Quênia, Costa do Marfim, Tunísia, Filipinas, Paquistão e Turquia. Abaixo, detalhamos informações sobre as mulheres que irão compor as mesas de debate.
Programação completa
1. Construindo uma visão comum sobre as características da ordem mundial
Para essa discussão, partiremos de situações emblemáticas nas quais o Estado está hegemonizado por projetos de direita,conservadores e autoritários (exemplo? Turquia, Filipinas, Brasil, EUA). Cada apresentação buscará responder questões como:como se constroem e se manifestam os mecanismos de controle? Como ocorre a captura corporativa nesses Estados? Como se expressa o antifeminismo?
Com Yildiz Temürtürkan, Jean Enriquez, Priya Johnson e Bernadete Monteiro
2. Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo
Essa discussão partirá das visões e estratégias construídas pela Marcha Mundial das Mulheres e pelas organizações aliadas, como a Via Campesina e Amigos da Terra. Neste momento, será apresentada e discutida a perspectiva da economia feminista, questionando como a exploração do trabalho se organiza na fase atual do capitalismo racista e patriarcal; e quais as ações necessárias em distintos âmbitos (micro, meso, macro) para a reorganização da produção e reprodução da vida. Serão discutidas as estratégias de construção das lutas articuladas nos âmbitos nacionais e internacionais, e os diálogos com outras economias (socioeconomia solidária, economia ecológica).
Com Graça Samo, Karin Nansen, Wendy Cruz Sanchez
3. Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios
Partindo de experiências concretas de poder popular com base nos territórios e na integração dos povos, esse momento buscará refletir sobre formas contra-hegemônicas de gestionar e organizar a sociedade inscritas em processos de resistência, como é o exemplo das mulheres curdas (Rojava), das mulheres indígenas americanas e de comunidades no Quênia. Nesse momento, a intenção é debater a perspectiva dos comuns, reforma ou revolução, transições.
Com Alessia Dro, Sophie Ayoo Ogutu, Osawa Binesh Albert
4. Feminismo em movimento
O debate se realizará em grupos, a partir de elementos para construir uma visão comum sobre as dinâmicas do feminismo em cada lugar, considerando a ampliação e massificação do feminismo nas novas gerações e nos setores populares, e quais são suas potencialidades, riscos (fragmentação, cooptação pelo mercado), quais os sujeitos constituídos e a concretização dos discursos em luta.
Com Sandra Morán
5. Resistimos para viver: elementos para a construção estratégica do movimento
Buscaremos refletir sobre qual movimento é necessário construir no momento histórico atual, considerando o conjunto dos debates realizados e a não-separação entre a ideologia e moral conservadora e a economia. São parte disso os elementos para a construção de posicionamentos políticos que se expressem em uma agenda e em um marco de alianças internacionalista em processos organizativos.
Com Cindy Wiesner e Nalu Faria
Debatedoras
PRIYA JOHNSON (Estados Unidos)
Priya é militante da Marcha Mundial das Mulheres e coordenadora política da aliança Grassroots Global Justice (GGJ). Durante sua trajetória, participou de campanhas contra ajustes fiscais, privatização e o encarceramento da juventude. Participará da primeira mesa do seminário, “Construindo uma visão comum sobre as características da ordem mundial”. Fala inglês e entende espanhol.
YILDIZ TEMÜRTÜKAN
Yildiz é militante da Marcha Mundial das Mulheres da Turquia. Atua em Ankara, em defesa dos direitos humanos, contra a tortura e assassinato de lideranças sociais, incluindo membros de sua organização. Sua trajetória inspirou o curta, Yildiz Temürtürkan in Turkey. Também participará da primeira mesa do seminário, onde contribuirá para a discussão sobre a hegemonia de projetos de direita no Estado. Fala inglês.
JEAN ENRIQUEZ (Filipinas)
Jean é militante da Marcha Mundial das Mulheres das Filipinas e advogada pelos direitos das mulheres. Seu trabalho contra a prostituição e o tráfico de mulheres foi reconhecido em prêmio da Unesco. Também estará na mesa “Construindo uma visão comum sobre as características da ordem mundial” debatendo os elementos do autoritarismo, do conservadorismo e do projeto econômico da direita nos governos atuais. Fala inglês.
BERNADETE (Brasil)
Bernadete é parte da coordenação executiva da Marcha Mundial das Mulheres e milita em Belo Horizonte, Minas Gerais. Também constrói a Frente Brasil Popular. Trará ao debate a perspectiva do enfrentamento popular ao conservadorismo neoliberal de Jair Bolsonaro.
GRAÇA SAMO (Moçambique)
Graça é, desde 2014, coordenadora do secretariado internacional da Marcha Mundial das Mulheres, sediado em Moçambique. É também diretora executiva do Fórum Mulher. Participará da mesa “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo”.
KARIN NANSEN (Uruguai)
Karin é uruguaia, fundadora e presidente da rede Amigos da Terra – Internacional, que atua com foco em justiça ambiental, social e de gênero. Participará da mesa “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo”, trazendo insumos sobre estratégias para a reorganização da produção e reprodução da vida. Fala espanhol e inglês.
WENDY CRUZ SANCHEZ (Honduras)
Wendy é integrante da Via Campesina, articulação que reúne organizações e movimentos camponeses de todo o mundo. Participará da mesa “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo”. Fala espanhol.
ALESSIA DRO (Curdistão)
Alessia é membro do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e integra o Movimento de Libertação das Mulheres do Curdistão. É formada em filosofia política e tem atuado para difundir as lutas das mulheres curdas. Alguns de seus textos. Participará da mesa “Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios”,onde exporá sobre as experiências curdas de autogestão e poder popular. Fala espanhol e inglês.
SOPHIE AYOO OGUTU (Quênia)
Sophie é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Quênia, atua na articulação de organizações populares de mulheres em seu país. Sophie participará da mesa “Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios”. Fala inglês.
OSAWA BINESHI ALBERT (Estados Unidos)
Osawa é membro do conselho da Rede Indígena de Meio Ambiente (IEN). Participará da mesa “Resistências nos territórios: acúmulos, lições e desafios”, unindo a perspectiva da luta indígena ao debate dos processos de resistência e dos comuns. É formada em estudos indigenistas, com foco em artes performáticas e escrita criativa. Fala inglês e entende espanhol.
SANDRA MORÁN (Guatemala)
Sandra Morán foi a primeira mulher lésbica eleita deputada na Guatemala, em 2015. Tem longa trajetória de atuação no movimento feminista popular, onde atua com formação política. Fala espanhol e inglês.
CINDY WIESNER (Estados Unidos)
Cindy é coordenadora nacional da aliança Grassroots Global Justice, movimento que articula organizações populares nos Estados Unidos. Tem sido uma figura chave na construção internacionalista dos movimentos sociais estadunidenses, com atuação destacada nos movimentos por justiça climática e feministas. É integrante da Marcha Mundial das Mulheres, e participará da mesa “Resistimos para viver: elementos para a construção estratégica do movimento”. Fala inglês e espanhol.
NALU FARIA (Brasil)
Nalu Faria é coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres – Américas e coordenadora da SOF Sempreviva Organização Feminista.Participa da construção de articulações dos movimentos sociais, como a Frente Brasil Popular e a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo. Organizou e escreveu publicações como “A produção do viver” e “Desafios do livre mercado para o feminismo“. Participará da mesa “Resistimos para viver: elementos para a construção estratégica do movimento”.