Massacre após massacre, empresa ganha quase 900 milhões no AM
No último dia 27 de maio, 42 presos foram encontrados mortos em quatro unidades prisionais do Amazonas. Somados aos quinze homicídios de domingo (26), o total de vítimas chega a 57. Todas os presídios são administrados pela Umannizzare Gestão Prisional e Serviços Ltda, empresa privada que recebeu 836 milhões de reais nos últimos quatro anos, de acordo com os contratos disponíveis no Portal Transparência do estado.
Cadáveres foram encontrados no Complexo Anísio Jobim (Compaj), que é o cartão de visitas da Umanizzare no Amazonas. A gestora administra o presídio desde 2013 e cobra o valor de quase cinco mil reais mensais por preso – praticamente o dobro de que um preso custa nos outros estados. A última renovação do contrato do governo do estado do AM com a empresa foi em dezembro de 2017, mesmo após um massacre que à época deixou mais de cinquenta mortos no estado.
Superlotação – Existem atualmente no Brasil mais de setecentos mil presos, num sistema carcerário com capacidade para quatrocentos mil. Ou seja, faltariam trezentas mil vagas. Mais de 60% dos presos são negros. Cerca de 40% são presos provisórios. A maioria das acusações são de roubo (27%) e tráfico de drogas (24%) – crimes de baixo nível de periculosidade lotam cadeias.O Amazonas é um dos estados com maior superlotação: as prisões estão com quase 140% a mais que sua capacidade.
Grande parte do crime se organiza nos presídios brasileiros. O Primeiro Comando da Capital (PCC, a maior facção do país) , por exemplo, começou a se organizar ainda na década de 1990 dentro das cadeias paulistas. É das unidades prisionais que os líderes dão seus comandos. E, principalmente, é ali que eles angariam mais mão de obra. E por quê? Bom, um detento que entra na cadeia está suscetível a todo tipo de violência, e o Estado não consegue garantir sua segurança.
Para se proteger, o preso se soma a um grupo. Como na cadeia não existe almoço grátis, a proteção que os líderes lhe oferecem tem seu preço: os ‘filiados’ podem ser obrigados a pequenos trabalhos dentro da cadeia ou até garantir escambo de produtos e drogas, envolvendo assim suas famílias em dia de visita.
O aumento vertiginoso da população carcerária no Brasil é alimentado e ajuda a manter um ciclo vicioso que culmina nas explosões dos índices de violência que temos acompanhado, porque garante para o crime organizado, justamente, mais mão de obra. As dívidas com as facções podem nunca ser quitadas. Quando nas ruas, os ex-detentos ainda podem ser obrigados a trabalhar para a facção.
E, do lado de fora dos presídios, há mais de sessenta mil mortes por ano, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2017, foram 5.144 pessoas mortas por policias, numa média de catorze por dia. Uma a cada três, negra.
No Amazonas atuam:
– Primeiro Comando da Capital (com origem em São Paulo),
– Comando Vermelho (de origem do Rio de Janeiro)
– Família do Norte (do Amazonas, que se fortaleceu no estado a partir de 2015)
O Ministro Sérgio Moro diz que vai enviar a Força Tarefa de Intervenção Penitenciária (formada por agentes federais de execução penal dos 26 estados da federação e do Distrito Federal) e a Força Nacional de Segurança Pública para o Amazonas. O Ministro também prometeu vagas em presídios federais para os mandantes dos crimes (que já teriam sido identificados), após um acordo com o CV)