Após a realização de um dos desejos do antigo governo Temer e do atual Bolsonaro, o término da parceria com Cuba e a consequente saída da quase totalidade dos médicos cubanos do Programa Mais Médicos (PMM), acontece algo que já era sabido desde a implementação da iniciativa em 2013: grande parte dos médicos brasileiros, inclusive os participantes do PMM, não quer trabalhar nos rincões mais pobres e remotos do país. Só em 2019, 1.052 médicos brasileiros abandonaram o Programa.

Atualmente a real quantidade de profissionais do Mais Médicos alocados nos municípios não é mais divulgada pelo Ministério da Saúde. Mas sabe-se que destes desistentes, 17,2% eram de São Paulo, 11,1% da Bahia e 9,9% de Minas Gerais. Segundo relatos de gestores municipais, muitos abandonaram seus postos por não conseguirem se adaptar às realidades e condições locais e outros para fazer residência médica, o que mostra que alguns, mesmo ao se inscreverem no PMM, não tinham a real intenção de atuar no Programa. Outro fator relevante é que 40% dos novos profissionais aceitos no PMM já trabalhavam para o SUS, o que faz que o problema somente mude de lugar. Em Roraima, por exemplo, 36 dos 43 novos inscritos já faziam parte do SUS.

O Programa Mais Médicos já chegou a contar com 16.392 médicos em atividade em 2016. Os médicos cubanos representavam 68% destes. Apesar da dificuldade atual de acesso aos dados, é sabido que, independente destes desistentes de 2019, e partindo do pressuposto de que muitos dos que se candidataram ao Programa recentemente ainda não assumiram seus postos nos municípios, a tabela abaixo, que quantifica o fim da parceria com Cuba ao final de 2018, fornece informações relevantes sobre a fragilidade da situação dos municípios regionalmente.
Nela, pode-se observar que os municípios da região Norte foram os mais prejudicados com o término desta parceria, pois apresentou redução de 65,2% dos profissionais do PMM. As regiões Nordeste, Sudeste e Sul apresentaram reduções na ordem de 50%. O Centro-Oeste, região menos afetada, apresentou ainda assim a forte redução de 40,6% de profissionais para o atendimento de saúde à população de seus municípios. A média para o país foi de 52%.

Após declarações ameaçadoras e depreciativas de Bolsonaro, ao final de 2018, o governo cubano decidiu por fim à parceria com o PMM. Intermediado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a parceria surgiu quando o governo Dilma identificou que os médicos brasileiros que se candidataram não atingiam sequer 30% da demanda do Programa. Desde então, o Programa Mais Médicos recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais e recebeu nota 9 (de 10) dos usuários diretos. O sucesso do Programa, no entanto, foi fortemente abalado nestes últimos meses, e atualmente já é chamado por muitos e faz jus à alcunha de “Menos Médicos”.

 

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