Gleisi, em encontro com evangélicos do PT: ‘este governo é do mal’
Com a saudação “paz do Senhor”, Gleisi Hoffmann, presidenta do PT, deu início à participação dela no 1º Encontro de Evangélicos e Evangélicas do partido, que reúne aproximadamente cem participantes nas dependências de um centro de formação católica, localizado no bairro do Ipiranga, em São Paulo, entre esta sexta-feira e amanhã.
Católica e neta de luteranos, Gleisi afirmou que o governo Bolsonaro “é do mal”, por instigar o ódio, a perseguição aos diferentes e às opiniões contrárias e por adotar linhas de ação que aumentam a pobreza e as dificuldades para a maioria da população.
“Depois que a gente conseguiu fazer um pequeno avanço, apenas um degrau, eles não consentiram e querem voltar atrás. O Brasil voltou a ter fome. Parcela da população está comendo uma vez só por dia para poder sobreviver. Ou a cada dois dias”, explicou a deputada federal. “Um país que paga alto salários para a cúpula do serviço púbico e paga salários exorbitantes para executivos do mercado financeiro não pode aceitar isso”, criticou ainda. “Isso é do mal”.
Gleisi acentuou a crítica e disse acreditar que setores hoje no poder federal e parte de seus apoiadores executariam novamente Jesus Cristo, caso ele voltasse agora e passasse pelo Brasil. “Eu tenho certeza que se Jesus voltasse hoje ele ia ser levado para o mesmo lugar, pelas mãos dos moralistas”.
Segundo ela, a busca por justiça social e combate à acumulação de bens motivou Jesus, “um ser político, não partidário: Ele não concordava com os julgamentos morais que se faziam, não concordava com quem não pregava o amor – os fariseus – e expunha isso na sociedade. Essas pessoas que se utilizam da estrutura das igrejas para jogar o mal, o ódio, o medo – a boca fala do que o coração está cheio. Isso é do mal”, repetiu.
O encontro iniciado hoje em São Paulo é uma tentativa, segundo definição da própria Gleisi, de ampliar o espaço e a visibilidade dos evangélicos – ou protestantes – no PT. Uma das propostas apresentadas pela presidenta do partido, bastante aplaudida pelos participantes, é a criação de um grupo eleitoral que identifique e consolide candidaturas evangélicas para as próximas campanhas municipais.
Ao final deste 1º Encontro de Evangélicos e Evangélicas do PT, na tarde de sábado, serão divulgados um manifesto e uma carta à direção do partido. O debate da manhã desta sexta foi transmitido ao vivo pela internet, em perfis criados por grupos de evangélicos petistas.
Isabel dos Anjos, diretora da Fundação Perseu Abramo, em sua participação no debate, fez referência ao modo comunitário adotado pela igreja cristã desde sua origem como forma de superar o cenário de retrocesso que ela identifica no Brasil e no mundo.
“O enfrentamento passa necessariamente pela organização comunitária”, disse Isabel. “Temos uma emergência na pauta do dia: a desconstrução de um legado que vinha desde a constituição de 1988. A sobrevivência dos direitos do povo e da soberania do país e da liberdade do presidente Lula”. Isabel classificou o desmonte da Previdência pretendido pelo governo como “afronta ao povo”.
Representante da Frente Brasil Popular, Lúcio Centena afirmou que a esquerda brasileira “nos últimos anos relegou a segundo plano a religiosidade, e essa é uma forma indispensável para se dialogar com o povo brasileiro”.
Para Benedita da Silva, uma das dirigentes partidárias que defendeu a necessidade de organização deste encontro, a luta por justiça social e por respeito às minorias e parcelas mais pobres é a essência do Evangelho, portanto o que é preciso fazer, segundo a deputada federal, já estaria inscrito “do Gênesis ao Apocalipse”.
Durante o encontro, Gleisi Hoffmann retomou discurso proferido na última quinta-feira, no Congresso, e acusou a operação Lava Jato e seu mentor, Sérgio Moro, de crime. Mais especificamente, corrupção passiva: “Repassar informação privilegiada diretamente aos Estados Unidos em troca de dinheiro é corrupção passiva”, disse, em referência aos 2,5 bilhões de dólares de acordo de leniência que os lavajatistas pretendiam administrar como se fossem deles.