Enquanto no âmbito doméstico as desavenças entre o Legislativo e o Executivo aumentam, sobretudo em relação ao projeto de reforma da Previdência, Jair Bolsonaro (PSL) está viajando frequentemente (já se tornou o presidente que mais viajou para o exterior nos primeiros três meses de mandato). Por onde passa, Bolsonaro gera polêmica, de maneira negativa, para o Brasil. O país da vez na última semana foi o Chile, onde a comitiva brasileira esteve entre 21 e 23 de março.

Ao chegar, Bolsonaro sofreu boicote de parlamentares importantes que resolveram não participar da cerimônia de recepção para o brasileiro, entre eles o presidente do Senado, Jaime Quintana, e o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, José Insulza. O motivo foram as declarações de Bolsonaro a favor da ditadura militar, posicionamento incompatível com a história chilena (e, diga-se de passagem, a brasileira). Um segundo motivo foram declarações feitas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em entrevista a uma rádio gaúcha, na qual elogiou reformas econômicas feitas pelo ditador Augusto Pinochet e disse que este “teve que dar um banho de sangue” no país.

O Chile passou por uma ditadura militar comandada por Pinochet entre os anos de 1973 e 1990. Desde então, se empenha em construir memória sobre o período, para este nunca mais se repetir. Existe em Santiago um grande museu, intitulado “Museu da Memória e dos Direitos Humanos”, que conta a história da ditadura, generais desta época foram presos e lá políticos relevantes não se atrevem a defender Pinochet.

Ainda em território chileno, Bolsonaro também participou da reunião de criação do ProSul, no dia 22, bloco liderado por governos de direita e extrema-direita da região que busca ser uma alternativa à Unasul, fundada consensualmente por presidentes progressistas como Lula e Hugo Chávez e conservadores como Álvaro Uribe, da Colômbia. Nesta iniciativa atual estavam presentes, além do presidente brasileiro e o do Chile, Sebastián Piñera, os chefes de Estado da Argentina, Mauricio Macri, o da Colômbia, Iván Duque, o do Equador, Lenin Moreno, o do Paraguai, Mario Benítez, e o do Peru, Martín Vizcarra. Não se sabe ao certo ainda como o bloco irá funcionar, apenas que, certamente, será um aliado dos Estados Unidos.

Em seu último dia de viagem, Bolsonaro encontrou-se com Piñera e eles divulgaram uma declaração em que ambos dizem rejeitar uma possível intervenção militar na Venezuela e que a solução para a crise neste último seria democrática e pacífica. Porém, um dia antes o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, disse, em entrevista a um jornal chileno, que seria necessário, em algum momento, utilizar força na Venezuela. Ao se despedir do Chile, uma última gafe: Bolsonaro agradeceu o “povo venezuelano”.

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