Às vésperas de completar um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes, executados no dia 14 de março de 2018, o Ministério Público do Rio de Janeiro e a polícia civil prenderam na manhã desta terça, 12 de março, dois policiais suspeitos de participação efetiva no crime.

Os suspeitos são o policial reformado Ronnie Lessa, responsável pelos treze disparos que mataram Marielle e Anderson; o outro é Élcio Vieira de Queiroz, um policial militar expulso da corporação, este responsável pela condução do veículo utilizado para a execução.

Os criminosos foram presos em uma ação da Operação Lume deflagrada nas primeiras horas do dia, que cumpriu mandado de prisão na casa de Lessa, um dos policiais presos, em um condomínio na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, o mesmo onde o presidente Jair Bolsonaro tem residência. O outro ex-policial, Élcio Queiroz, foi preso também eu sua residência, na Rua Eulina Ribeiro, no Engenho de Dentro.

A Operação Lume cumpre ainda 32 mandados de busca e apreensão contra os denunciados para apreender documentos, celulares, computadores, armas, munições e outros objetos que ajudem a esclarecer o crime. Durante o dia, haverá buscas em endereços de outros suspeitos.

Os presos não ofereceram resistência e foram levados à Divisão de Homicídios do Rio. De acordo com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o crime foi planejado durante três meses. Ronnie pesquisava na internet sobre locais que a vereadora frequentava, sobre a vida do deputado estadual Marcelo Freixo e do então interventor na segurança pública do Rio, general Braga Netto.

Segundo a assessora Fernanda Chaves, que estava no carro no momento da execução, não há uma situação específica para justificar o atentado. “Era um conjunto de coisas, a Marielle incomodava”, afirmou, “Ela não teve um problema específico que pudesse ter engatilhado uma situação que culminasse com o assassinato dela”, disse.

Marielle atuava na luta contra a violência contra a mulher e pelos direitos humanos e fazia fortes críticas à ação das milícias no Rio de Janeiro. Tudo leva a crer que o crime foi motivado pelo avanço de ações comunitárias da vereadora em áreas de interesse da milícia na região na Zona Oeste do Rio, de domínio de Orlando Curicica.

Outra linha de investigação sugere que deputados do MDB fluminense Paulo Melo, Jorge Picciani e Edson Albertassi, adversários políticos de Freixo, podem estar associados ao crime. A prisão dos suspeitos é uma vitória, mas não esclarece o caso. Agatha Reis, viúva do motorista Anderson Gomes, espera que o caso não se encerre aqui, é necessário saber o motivo e quem são os mandantes do crime. A ativista Monica Benício, viúva de Marielle Franco, diz que a prisão dos ex-policiais é “um passo importante na investigação, uma etapa fundamental” e “espera não ter que aguardar mais um ano para saber quem foi o mandante do crime”.

O deputado Marcelo Freixo concorda que “É um passo decisivo, mas o caso não está resolvido. É fundamental saber quem mandou matar e qual a motivação”. E acrescenta: “o assassinato de uma vereadora é um crime político. Por isso é fundamental sabermos qual grupo político é capaz de, em pleno século 21, mandar eliminar uma autoridade pública que tenha cruzado seu caminho”.

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