Carta de Macapá
Dentre os pontos do nosso compromisso comum, destacamos:
1. Construir e/ou consolidar instâncias democráticas de participação social, que assegure a todo cidadão o direito à informação e influência no orçamento público e no controle do seu gasto. As iniciativas em curso, guardadas suas peculiaridades, seja pela descentralização dos recursos públicos ou através de orçamento participativo devem ser aprofundadas, estabelecendo entre outros, legislação municipal e estadual que consolidem institucionalmente a conquista desses direitos.
2. Priorizar a pesquisa em todas as áreas do conhecimento científico, lutando para assegurar uma transformação social e a elaboração de conhecimento que valorize a cultura, o saber e a experiência das populações tradicionais e do conjunto da população amazônica.
3. Preservar a nossa cultura e todas as formas de expressão popular que expressem nossa diversidade étnica. Destacamos como valor fundamental o respeito às diferenças e a afirmação de cada uma das etnias que compõem os povos da Amazônia, com destaque aos indígenas e negros, duramente segregados por séculos de dominação e arrogância de colonizadores e das classes dominantes. Portanto, as terras indígenas e dos remanescentes quilombos são direito básico e constitucional. Qualquer forma de racismo, agressão e discriminação será considerada por todos nós como uma violação de Direitos Humanos e como tal denunciada e punida.
4. Relevante, a participação das mulheres que com muita determinação têm desenvolvido projetos na perspectiva do equilíbrio de gênero que vem transformando a qualidade de vida das nossas populações.
5. Destacamos também, a participação, pela primeira vez, de movimentos jovens, o que reforça o compromisso desta Conferência com as futuras gerações e abre espaço para sua participação na organização da próxima conferência.
6. Consideramos dever de todos (1) a luta contra qualquer forma de violência no campo e nas cidades, (2) destacando a violência contra as mulheres, (3) e de todas as formas de discriminação e desigualdade entre os sexos e (4) pelo respeito às diferenças de gênero e geração, opção sexual e modo de vida, propondo sempre a equidade social. Destacamos aqui nosso repúdio à impunidade dos crimes, ameaças e assassinatos, aos militantes das causas populares na região Amazônica e no Brasil. A Conferência da Amazônia exige a completa e rápida apuração dos mesmos e punição dos responsáveis. Simbolicamente, citamos o recente assassinato do companheiro Dema, no Pará. Esta violência tem de acabar!
A Conferência fará uma campanha nacional e internacional para denunciar a bruta violência e morte de trabalhadores rurais e a total inoperância da justiça paraense em condenar os mandantes e assassinos, bem como a omissão do governo do estado do Pará com os fazendeiros e com os mandantes assassinos.
7. Luta contra a Violência e a Tortura, sobretudo quando é praticada pelo aparelho estatal. Fiscalização, com participação da sociedade, da implantação dos grandes projetos, sobretudo o de reflorestamento, monocultura e mineração.
8. Considerando a importância dos povos e organizações indígenas amazônicas, decidimos que os mesmos estejam em todo processo da próxima Conferência da Amazônia, e lutaremos para que os projetos governamentais e/ou empresarias indenizem os povos amazônicos e indígenas pela destruição e danos ambientais causados aos seus povos.
As seguintes propostas serão encaminhadas coletivamente como parte de nossa agenda comum:
1. Decidimos pela implementação da Agência de Notícias Chico Mendes, que terá a responsabilidade de veicular, de acordo com sua Carta de Princípios, informações sobre as experiências, lutas e propostas na construção de uma Amazônia Sustentável, Soberana, Democrática e Popular. Incentivando e apoiando as articulações para ampliação da imprensa alternativa na região e em especial no movimento de rádios comunitárias.
2. Realizaremos, em fevereiro próximo, Oficina para detalhar proposta concreta de financiamento do desenvolvimento regional, incluindo a ADA – Agência de Desenvolvimento da Amazônia, sua concepção, instrumentos e gestão do financiamento, com vistas à coordenação das diversas políticas implementadas pelos agentes financeiros públicos que atuam na região e a implementação imediata do Pro-ambiente como política de financiamento do Desenvolvimento Rural na Amazônia. A proposta deve abranger as Agências de Fomento Estaduais, sugestão para uma Coordenação Geral das diversas políticas implementadas pelo BNDES, BB, CEF, BASA, ADA, Bancos e Agências de Fomento Estaduais, PPG-7 e demais programas afins, e estabelecendo critérios comuns que dêem coerência entre elas, visando o fortalecimentos dos projetos, principalmente os de base popular e solidária, e a gestão que garanta a equidade social nas comunidades, sua natureza sustentável e mecanismos efetivos de controle social, consolidando a sua capacidade gerencial e produtiva.
3. Sugerimos também a consolidação ou criação de Fóruns temáticos permanentes para consolidação de projetos comuns e trocas de experiências de usos da terra e produção agrícola sustentável, iniciativas de equilíbrio de gênero, ações de resgate cultural entre tantas outras que compõem o espectro da sustentabilidade
4. Decidimos participar coletivamente, com base nos princípios e propostas desta Conferência, das seguintes iniciativas a serem realizadas no ano de 2002: consolidação do Pro-ambiente coordenada pelas Fetagris e CONTAG, Fórum Social Pan-Amazônico, Fórum Social Mundial, Grito / Caravana das Águas coordenada pela CUT, Conferência Rio+10,
5. Por último, reafirmamos Rio Branco, capital do Estado do Acre, como sede da III Conferência da Amazônia, a ser realizada no próximo ano, cuja reunião preparatória está agendada para fevereiro de 2002.