A sugestão do ministro Paulo Guedes sobre reduzir drasticamente as informações coletadas pelo Censo Demográfico 2020, que inicia sua preparação já em 2019, pode prejudicar os próximos dez anos de gestão pública no país, bem como estudos acadêmicos, e a já frágil transparência e disponibilidade de informação fundamentada à população brasileira.

O Censo, realizado desde o século XVIII e partir de 1936 pelo IBGE, é a pesquisa de maior abrangência e amostra estatística nacional, fornecendo dados únicos de todos os municípios do país, inclusive intramunicipais para os municípios médios e grandes, e é uma das principais fontes para retratar o país e subsidiar políticas públicas. Devido à sua periodicidade e padronização das informações levantadas, é possível comparar a evolução de diversos aspectos do país, verificando o quanto, como e onde a realidade mudou, e quais os efeitos de políticas públicas ao longo do tempo, seja na esfera municipal, estadual ou federal.

Quebrar esta sequência reduzindo drasticamente as informações coletadas (o ministro deu a entender a redução de 150 para cerca de 10 questões), além dos prejuízos já citados, é também questionável no aspecto econômico da pesquisa, especialmente no custo-benefício financeiro, uma vez que, mesmo assim, o pesquisador naturalmente ainda iria de casa em casa, reduzindo apenas o tempo da entrevista.

A preocupação é reforçada pelo fato da nova presidenta do Instituto, Suzana Guerra, ter sido indicada pelo então ministro, e por declarações anteriores de Bolsonaro, quando chamou de “farsa” a pesquisa que levanta os dados oficiais sobre desemprego, indicando que iria mudar a metodologia da mesma, sem naturalmente dar mais detalhes. Tal mudança poderia abrir caminho para alterações em outras pesquisas, o que pode favorecer um governo que não queira ser medido pela mesma régua dos anteriores, inviabilizando assim a correta mensuração de suas políticas adotadas e a comparação com gestões anteriores.

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