As produções da Netflix possuem um arco muito amplo de gênero, estilo, gostos e interesses, de tal modo que, seja qual for a sua preferência, dificilmente não haverá algo que lhe interesse. Uma das linhas de sua produção traz interessantes séries e filmes com temas caros aos ativismos contemporâneos de maior visibilidade. A despeito de marcante qualidade técnica destas peças, eu não havia vista nada artisticamente relevante ou que tivesse um bom aprofundamento nas questões a que se dedicam.

Mas, eis que me deparo com a série Sex Education. Ela se passa no espaço escolar do que seria o ensino médio de uma pequena cidade inglesa, quando uma dupla de estudantes resolve oferecer serviços de aconselhamento sexual para seus colegas. Nesta primeira temporada, a série conta o processo de descoberta sexual de alguns dos adolescentes que estão no primeiro plano da narrativa. Mas é muito mais que isso.

A partir deste momento, vários dilemas da vida adolescente, e mesmo da vida adulta, vão sendo remexidos para ser profundamente trabalhados. Os roteiristas vão muito mais além da aporrinhação dos corredores, da tensão das casas dos jovens, suas famílias e amigos. Ao invés de fazerem costumeira digressão biográfica de cada um, eles optam por usar e abusar do que pode ser visto nas relações entre cada personagem.

Cena do seriado

Créditos: IMDB.com

Pelo fato de os personagens serem tipos sociais eles podem parecer, à primeira vista, chapados e o primeiro episódio pode parecer vulgar e despretensioso. Contudo, a trama é poderosa e nos leva muito além dos estereótipos. Aos poucos, o jovem tímido e reprimido, o presidente estudantil quase-Obama, a depravada sexual sem família quase-Christiane F., o grupinho que gosta de pose e status, o gay negro e espalhafatoso, o filho bruto do diretor, etc. vão desabrochando e ganhando carisma, não pelo caminho repisado de suas histórias pessoais, mas nas decisões que tomam a cada encruzilhada que a estória oferece.

Numa sucessão de oportunidades e constrições, todas as camadas sociais são reveladas na trama, barreiras sociais se impõe a uns, as portas da oportunidade se abre a outros. Com a precisão e a rapidez que só a vida dinâmica do ensino médio proporciona, a série mostra como a estrutura social se apodera de nossas vidas; mostra o que o racismo, a desigualdade material, a família desestruturada, a homofobia, o machismo, os ideais de masculinidade fazem com a vida de jovens em idade escolar, este momento tão decisivo na vida de todos nós.