Com o intuito de angariar apoios para aprovar a indigesta Reforma da Previdência, Gustavo Bebianno, o atual ministro da Secretaria Geral da Presidência e velho chapa do clã Bolsonaro, veio a púbico para dizer que “a manutenção dos direitos que existem hoje é uma fantasia, porque o avião está caindo. Vai morrer todo mundo. Não adianta achar que o avião vai continuar a voar com esse peso”.

Ora Bebianno, pare com isso. O avião já se espatifou no chão em 2015, quando os agentes do mercado financeiro trucaram pra cima da presidenta Dilma, se aboletaram nos postos de comando da economia e deram início à mais profunda experiência de ortodoxia econômica que tivemos em nosso país. Desde então, o PIB e a vida dos brasileiros desmoronaram, e hoje, em qualquer direção que se mire, não se encontra fagulha capaz de reascender o pavio da nossa demanda.

Mas nem tudo são cinzas. Como bem sabe e aprecia o superministro Paulo Guedes, os bancos brasileiros estão bombando. Bombando como sempre, com PIB, sem PIB, com gente dormindo na rua ou com pleno emprego. Neste rincão verde e amarelo, banco bomba! De acordo com os balanços publicados nos últimos dias, só em 2018 os três grandes bancos privados do país obtiveram um portentoso lucro líquido de 59,7 bilhões de reais, dos quais 37 bilhões foram distribuídos aos acionistas na forma de dividendos, juros sobre o capital próprio e recompra de ações (todas modalidades isentas de impostos de qualquer natureza).

Juntando “lé” com “cré”, só posso concluir que esse deve ser o tal “peso” a que se referiu o escudeiro Bebianno. De fato, em uma economia que enfrentou dois anos de forte recessão (2015/2016) e que nos dois seguintes rastejou pela sarjeta, parece intolerável que o setor financeiro consiga fazer seus lucros saltarem ano após ano.

Para se ter uma ideia da desmesura, considerando a bufunfa acumulada pelos três bancões que desfrutam de nosso manjar (veja na tabela abaixo), houve um crescimento de 10,8% entre os lucros de 2018 frente à mesma somatória do ano anterior. O Itaú, que no último ano do governo Temer auferiu o maior lucro de um banco privado na história do Brasil (R$ 25,7 bilhões) – e que manteve na presidência do BC seu ex-diretor – viu seu lucro ampliado em 4,2%. Já o Bradesco, do ex-ministro Joaquim Levy, com um lucro líquido também exuberante (21,6 bilhões de reais) registrou um crescimento notável de 19,7%, enquanto o lucro das operações do Santander no Brasil, embora de menor monta, saltou incríveis 24,6% em apenas 52 semanas do modorrento ano de 2018.

RESULTADOS DOS MAIORES BANCOS PRIVADOS NO BRASIL

Lucro Líquido

(2018)

Crescimento

(2018/2017)

Lucro/Patrimônio (ROE)

Itaú

R$ 25,7 bilhões

4,2%

21,9%

Bradesco

R$ 21,6 bilhões

19,7%

19,0%

Santander

R$ 12,4 bilhões

24,6%

19,9%

Total

R$ 59,7 bilhões

10,8%

Como se não bastasse, quando se compara o lucro líquido apurado por cada banco com o seu respectivo patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) chega-se a uma taxa que orbita os 20%, o que é uma enormidade para qualquer corporação do mundo capitalista, comparável apenas a operações ilícitas ou a jogadas de grande risco. Cabe perguntar então ao diligente Bebianno: não seria este o peso que impede a produção e o emprego de voltarem a voar?