O título é a única obviedade dessa obra de arte. O filme, disponível na plataforma Netflix, é islandês e conta a história de uma família monoparental islandesa em situação de pobreza e de uma refugiada da Guiné-Bissau.

De forma muito leve e sensível, o longa metragem aborda temas espinhosos da atualidade mundial: a imigração na Europa, a desigualdade social, o machismo e a homofobia. Todas essas enormes complexidades foram tratadas de forma muito intimista pelo diretor Isold Uggadottir.

Inspirar e expirar parece ser coisa simples, óbvia, mas muitas vezes, com as durezas da conjuntura atual, não é. A mensagem transmitida pelo filme ultrapassa os limites convencionais do cinema tradicional, e é capaz de gerar um enorme sentimento de empatia e alteridade com as atrizes que protagonizam a obra.

O roteiro traz sensações estranhas, como a a pobreza em um país que possui um dos melhores índices de desenvolvimento humano e igualdade de renda do mundo. Mesmo na realidade da social-democracia ainda em aplicação, o espectro do filme é a pobreza e a desigualdade.

Essa surpresa poderia ser suficiente para a atratividade da película, mas ela ainda vai além, especialmente porque traz a dimensão afetiva e íntima dos maiores problemas sociais do mundo. Homofobia, machismo, desigualdade de renda e refugiados são abordados com muita alteridade, solidariedade e carinho em um lugar cinza e frio.

O filme se faz político ao transmitir o recado de que a desigualdade é global. Esse elemento traz a reflexão do grau de exclusão que o mundo está disposto a admitir. Os dilemas da sociedade trazidos ao ambiente íntimo e privado desafiam a mente humana ao inevitável sentimento de enxergar o mundo com os olhos do outro, algo pelo qual é impossível se passar impune.

Por fim, o título da obra e a sororidade entre as protagonistas apresentam algum recado do que precisa ser feito. Você provavelmente nunca assistiu um filme islandês, mas as experiências de não entender a entonação das falas, e de não fazer a menor ideia se a legenda está correta ou não, vão abrir os olhos para a simplicidade do olhar. E tudo isso é uma questão de humanidade.

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