Nos primeiros dias de 2019, Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, declarou que seria necessário “despetizar” seu Ministério e demitir servidores em cargos de confiança “ligados ao PT”. De fato, é normal que um governo assuma e coloque nos cargos de confiança pessoas próximas. Porém o uso da mídia neste processo, no caso atual, é curioso e toma ares de caça às bruxas, pois reforça a imagem de que o PT é culpado por todos os problemas do Brasil. Também não se noticia que o PT saiu do governo em 2016 e que, basicamente, o atual governo vai retirar indicações de Michel Temer, e não do PT.

Na ânsia por “despetizar” o governo (partido que, repito, já não governa desde 2016), o ministro deu uma curiosa declaração: afirmou que demitir os servidores em cargos comissionados seria “o único jeito de poder tocar nossas ideias e nossos conceitos, fazer aquilo que a sociedade brasileira decidiu por maioria. Dar um basta nas ideias socialistas e comunistas que, por 30 anos, nos levaram a esse caos. É interessante a escolha do marco temporal do Ministro, que diz que faz 30 anos que o Brasil está na mão de “comunistas” e “socialistas”, ou seja, desde que a Ditadura acabou.

Subentende-se que, antes da Constituição de 1988, o Brasil não vivia um caos e que “despetizar” talvez signifique não só atacar o PT, mas a própria democracia (que tem em torno de 30 anos no Brasil) e a
Constituição de 1988.

Onyx não está sozinho neste pensamento. Há agora muitos quadros do ministro da Educação adeptos do “Escola ‘sem’ partido”, que prega que a escola passou a ser “ideológica” nos últimos 30 anos, o que coincide com o período da redemocratização do país. E o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou que o Brasil “vai enterrar modelo econômico social-democrata”, ligado à Constituição de 1988.

Ainda, ontem, a comunidade acadêmica tomou com preocupação nota publicada por Ascânio Seleme, no jornal Globo, de que o novo governo revisaria contratos de bolsistas de pós-graduação no exterior que tivessem “ligação com o PT”. O mesmo jornalista afirmou, dias antes, que aqueles ocupando cargo de confiança no governo federal que tivessem postado “Ele não”, “Marielle Vive”, “Foi Golpe” etc em suas redes sociais, também seriam exonerados, segundo fontes do colunista no governo.

Com constantes ataques ao período democrático e à Constituição de 1988, bem como a perseguição aos opositores, o novo governo vai mostrando a que veio.

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