“É bobagem pensar na democratização da universidade”, disse o futuro ministro da educação do governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez.

Para Vélez Rodríguez, “o aluno tem que sair do segundo grau pronto para o mercado de trabalho. Nem todo mundo quer fazer uma universidade. É bobagem pensar na democratização da universidade, nem todo mundo gosta.” E completou: “o segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode colocar em prática os conhecimentos e ganhar dinheiro com isso. Como os youtubers, ganham dinheiro sem enfrentar uma universidade”.

Primeiro, o ministro não sabe que já não se usa o termo segundo grau para se referir ao ensino médio. Segundo, sua afirmação soa como ameaça para todas as políticas públicas que o país colocou em prática até aqui, como o Prouni, o Reuni, as políticas de Assistência Estudantil, todas, que já estavam abaladas pelo corte de gastos desde 2015. Agora todas elas viraram “bobagem”. É bobagem ter mais negros na universidade? Mais indígenas? Mais estudantes de escola pública? Mais Instituições de Ensino Superior no Nordeste?

Sua fala soa como ameaça até para o direito à educação, estabelecido na Constituição no Artigo 205 como um direito de todos, em que se lê:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1988)

Ora, esse direito deve voltar a ser só de alguns, já que é “bobagem” que todos aspirem alcançá-lo. A fala de Vélez é uma ameaça muito grave a um país com tantas desigualdades e que vinha garantindo, desde a Constituição, uma institucionalidade que nos permitia avançar pouco a pouco. E que nos permitiu já ter 66% dos estudantes das Instituições Federais de Ensino com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo. Sim, o perfil da educação superior mudou, mas para alguns, como o ministro, isso é bobagem. Deve a educação superior voltar a ser de poucos?

E, além de voltar a ser de poucos, o trecho em que se lê na Constituição “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” se transformou na boca do futuro ministro em “virar youtuber”.

Novamente e escancaradamente, a nova equipe de governo mostra sua cara antidemocrática, retrógrada e absurda.

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