Documentário “Jango” mostra semelhanças entre 1964 e 2018
O atual momento brasileiro é crítico, com um candidato à Presidência da República que é abertamente favorável à ditadura militar e que tem, como ídolo, um dos maiores torturadores do período. É um momento propício para olhar para trás e pensar no processo do golpe de 1964. Isso é feito no documentário “Jango”, de Silvio Tendler, lançado em 1984, que expõe a trajetória política de João Goulart (Jango) e, posteriormente, os desdobramentos do golpe. O filme enfatiza as disputas políticas domésticas do período, evidenciando como o Brasil era influenciado pela polarização ideológica da Guerra Fria e a pouca margem de manobra de Jango, devido ao momento econômico e social.
A ascensão de Jango está ligada a Getúlio Vargas, que foi um grande mentor e aliado. Ambos nasceram na mesma cidade: São Borja, Rio Grande do Sul. Vargas o colocou como seu ministro do Trabalho em seu segundo mandato, e sua medida mais polêmica foi a elevação do salário mínimo em 100%, o que ocasionou crise militar e descontentamento de empresários. Jango foi demitido.
Com Juscelino Kubitschek, Jango retornou à política como vice-presidente. Em 1960 foi reeleito e tomou posse junto com Jânio Quadros na presidência. Quando estava voltando de sua visita à China, Jango foi informado de que Jânio renunciara. Militares tentaram impedir a sua posse, com medo do “esquerdismo”. Entretanto, uma luta de opinião pública favoreceu a campanha pela legalidade, que tinha, inclusive, a simpatia de alguns militares.
Jango tornou-se presidente. Entre suas propostas estavam as reformas agrária e sociais A direita conservadora do país temia que o Brasil viesse a ser uma nova Cuba e, mesmo com propostas que com certeza não levariam a uma revolução, a parcela conservadora do país via o governo com ares socialistas, internalizando a bipolaridade presente no contexto internacional à época, e isso impactou de forma significativa a crise que surgiu. Em março de 1964 ocorreu o Comício da Central, na qual Jango, isolado no Congresso, anunciou suas reformas. Isso gerou uma revolta ainda maior contra o presidente em parcelas na classe média e no exército. Por fim, em 1º de abril de 1964, ocorreu o golpe que instaurou a ditadura e levou Jango ao exílio no Uruguai.
No Brasil atual também aparece, apesar do momento internacional ser totalmente diferente dos anos de 1960, um medo da ameaça comunista. Qualquer esforço de um governo para mitigar as desigualdades e dar mais oportunidades aos pobres é vista assim. A ascensão do candidato que apoia a ditadura tem como um dos seus pilares justamente esse discurso, que prega que, se o país não envergar ainda mais à direita, será transformado em uma “Venezuela”. Porém, assim como em 1964, não há uma ameaça comunista pairando o Brasil e sim uma luta entre quem defende mais direitos para os trabalhadores e a elite, que não admite nenhum progresso e, para tanto, é capaz defender propostas ditatoriais.