Seminário debate ameaças à democracia com Villepin e Chomsky
“Eu não vou esconder que eu e muitos observadores internacionais temos várias preocupações com relação ao que está acontecendo no Brasil. Uma preocupação com que acontece no mundo, com o regime do presidente Donald Trump e o aumento de governos autoritários que não são democráticos”.
A declaração de Dominique Villepin, ex-primeiro ministro da França entre 2005 e 2007, destaca a importância de se debater os rumos das democracias, da ordem mundial e especialmente o estado de exceção que o Brasil se encontra. Por isso, a Fundação Perseu Abramo (FPA) realizará, nesta sexta-feira (14), o seminário internacional “Ameaças à Democracia e a Ordem Multipolar”, uma iniciativa do ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim.
O evento contará com a presença de importantes pensadores e políticos de prestígio internacional como Noam Chomsky, Cuauhtémoc Cárdenadas, Carlos Ominami, Massimo D’Alema, José Luis Rodriguez Zapatero e o próprio Villepin. Para Amorim, o seminário tem um papel fundamental na defesa da Democracia no Brasil e no mundo.
“Como é possível atrair tantos pensadores como esses ao Brasil? Me parece que é algo que todos, ao contrário de alguns brasileiros que têm às vezes uma visão minúscula do país, sabem da importância do Brasil no cenário internacional. Sabem das nossas tradições democráticas, embora hoje estejam sendo violadas. Sabem que o país assinou todos os pactos de Direitos Humanos. Foi fundador das Nações Unidas”, ressalta Celso Amorim ao lado de Villepin, na coletiva de lançamento do seminário.
Para o ex-primeiro ministro da França, o mundo passa por grandes mudanças, com a alteração na geopolítica de uma ordem unipolar para multipolar e a afirmação de grupos supremacistas e conservadores na América Latina e na Europa. “As desigualdades têm ocorrido entre países ricos e países pobres, mas também ocorrem dentro dos próprios países e vemos esse foço aumentar muito entre algumas elites e o resto da população”.
“Nesse contexto, precisamos muito do Brasil como o grande ator democrático e defensor do multilateralismo, que sempre foi. O Brasil conseguiu se afirmar além do processo democrático, com uma diplomacia muito ativa e influente. Eu vivenciei tudo isso com o ministro Amorim, que participou ativamente nas relações do Brasil, principalmente na crise do Iraque, com países emergentes e também na crise iraniana”, aponta Villepin.
Comitê de Direitos Humanos da ONU
Ao longo da coletiva, Amorim destacou a grande preocupação com as recentes posições do Brasil diante da comunidade internacional, especialmente ao desrespeitar as decisões do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O Brasil assinou todos os pactos e tratados a partir da redemocratização, que no governo militar não foram assinados porque eles sabiam que não cumpririam. Agora, no entanto, acho muito chocante que o Brasil se refira ao Comitê como se ele fosse um órgão administrativo e não tivesse importância. Chegaram ao absurdo de dizer que o país não deveria se curvar à ONU. A ONU somos nós. O Brasil é membro originário das Nações Unidas”, critica Amorim.
Para Villepin, os acontecimentos recentes no país trazem muito preocupação para os observadores internacionais e, por isso, ele reforça a necessidade de iniciativas como o seminário. “Minha presença no seminário, junto com outras personalidades de todo o mundo, é um prova do interesse e preocupação que temos com o que está acontecendo no Brasil. O seminário é um exemplo da ligação que temos para defender o futuro, a democracia e a independência do Brasil, e seu papel de nação forte no mundo”.
“Há uma inquietação com relação ao que está acontecendo no Brasil, com o risco de violência e agressões políticas. Nesse contexto, há uma necessidade de defender instituições fortes e imparciais para defender o Estado Democrático de Direito e o coração da Democracia”, pontua Villepin.