Foi lançado neste mês o livro A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, dos autores Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias. A publicação expõe tanto a decadência da segurança pública do país quanto as entranhas da maior facção criminosa brasileira a partir de relatos inéditos de seus integrantes e de consequentes análises dos autores.

Segundo o livro, ocorreu uma grande mudança no panorama do crime no Brasil nos últimos cinco anos, a partir do momento em que o PCC chegou às fronteiras do país e eliminou os intermediários, podendo assim atuar no atacado. O estabelecimento de uma rede de parceria e distribuição nacional e uma inserção efetiva no tráfico internacional, com possibilidade de eliminação de intermediários inclusive na Europa, foram os passos concomitantes e que seguem em expansão.

Um aspecto interessante desta expansão da distribuição de drogas e armamentos é que ela chega a outras regiões do país, não pelo domínio do território, mas pelo estabelecimento de parcerias com facções locais. O PCC mira o lucro e entende que o máximo de paz possível, em detrimento de disputas, o amplia. Esta visão também é uma das razões do crescimento do PCC. Enquanto as facções cariocas guerreavam, ele se desenvolvia, contanto com a inanição do governo paulista.

Apesar de se organizar também de dentro do sistema carcerário, que, com auxílio de celulares, cria praticamente uma “rede online” de comunicados e acontecimentos, lá o clima é naturalmente mais tenso. O tratamento desumano, o clima de insegurança e a infraestrutura precária das prisões instiga muitos presos a procurarem segurança, direitos não atendidos, conforto e privilégios que as facções minimamente oferecem. Daí surge o terreno fértil para a ‘pescaria’ das facções por novos filiados e para o estabelecimento de parcerias com outras facções, que por vezes possuem outras lógicas de funcionamento e organização.

Destas diferenças surgiu o principal racha recente entre facções no país, o do PCC com o Comando Vermelho. No livro constam os detalhes desse fato, inclusive o “salve” (comunicado) do PCC à comunidade carcerária, explicando, sob o seu ponto de vista, os motivos e transgressões do CV que fizeram eclodir violências e massacres em diversos presídios do país em 2016 e 2017. Para além disto, há a disputa por algumas fronteiras do país que eram então controladas pelo CV e aliados.

Segundo os autores, esta fase de pós-consolidação do PCC, em grande parte a partir das prisões, só foi possível por conta da atual política de segurança pública – de encarceramento em massa e maus tratos – ainda defendida por tantos, e pela ideologia antissistema e anti-Estado compartilhada por muitos presos, que acabam por gerar pontos de vista como este: “os caras querem nos exterminar, a gente é visto como inimigo, eles querem nos deixar trancados aqui ou nos exterminar nas periferias”.

Urge lançar um olhar crítico e agir sobre os efeitos colaterais desta “guerra às drogas” e do encarceramento em massa.
O livro está disponível para aquisição, nas versões impressa ou digital (eBook), nas principais livrarias digitais do país.

 

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