Um aceno na luz de agosto para Zilah Abramo
Um aceno na luz de agosto para Zilah Abramo. Um dia depois de Brasília ter sido ocupada pelas três colunas dos trabalhadores sem-terra: Coluna Prestes, Coluna Ligas Camponesas e Coluna Tereza de Benguela reforçadas por trabalhadores e suas organizações, recebo a notícia de que o coração de Zilah Abramo deixou de bater.
Dos ipês de Brasília – rosas, brancos, amarelos – me vem um aceno na luz de agosto, como um gesto de quem se despede daqueles que amamos. Zilah amava os ipês de Brasília. Guardou deles a lembrança da explosão de cor com que iluminam a vestimenta ocre do cerrado nessa estação seca, coberta de pó. Desde o tempo em que passou por aqui com Perseu, na breve experiência da UnB, nos primeiros momentos do Golpe Militar de 1964.
A história da Fundação Perseu Abramo é inseparável da trajetória dessa militante lúcida, atenta aos primeiros passos da construção de cada área desse instrumento que se tornou indispensável ao Partido dos Trabalhadores, ao conjunto das esquerdas e dos setores progressistas da sociedade brasileira. Desde os programas iniciais: a Editora, o Programa de Cultura Política, o Centro Sérgio Buarque de Holanda, o Núcleo de Pesquisa e a incorporação da Revista Teoria e Debate.
Zilah cumpriu um inestimável serviço à Fundação nesse período tempestuoso da vida do partido e do país, quando assumimos o governo central, trabalhando na costura de redes permanentes de contatos com os setores da intelectualidade das esquerdas, dentro e fora do PT e em âmbitos mais amplos como os movimentos da área da saúde pública, para fazer frente ao bombardeio que se estabeleceu contra os governos Lula e Dilma e contra o partido.
Para cumprir o desafio de tornar a Fundação Perseu Abramo, um instrumento permanente de pesquisa, elaboração e diálogo com as fundações dos demais partidos no Brasil, na América Latina e na Europa, com a academia e os movimentos socais dos trabalhadores e torná-la uma referência do pensamento socialista no Brasil, contamos com a contribuição permanente dessa militante imprescindível: Zilah Abramo. Um ramo de ipê iluminado por flores amarelas sobre o seu coração.