Do Memorial da Democracia

Em agosto de 1991, o líder sul-africano Nelson Mandela faz uma visita de cinco dias ao Brasil. Libertado no ano anterior depois de passar 27 anos preso por lutar contra o regime de segregação racial em seus país, Mandela preparava sua candidatura para as eleições presidenciais previstas para 1994. Em viagens ao exterior, o líder cobrava de alguns governos (inclusive do brasileiro) a manutenção das sanções comerciais à África do Sul até que o direito de voto fosse garantido também aos cidadãos negros do país.

Depois de passar pelo Rio, Brasília, Vitória, São Paulo e Salvador, declarou-se “sufocado de tanto amor” no Brasil. Mandela voltaria em 1998, como presidente já em final de mandato, para uma visita oficial ao colega Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, recebeu uma comitiva do PT, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva.

A eleição de Mandela, em abril de 1994, marcaria o fim do odioso regime do apartheid na África do Sul. Resultado de uma transição conduzida conjuntamente pelo presidente Frederik De Klerk, do Partido Nacional, e pelo líder então recém-libertado, essa foi a primeira eleição multirracial e multipartidária desde 1948.

Mandela conhece Brasil e sai "sufocado de tanto amor"

Encontro de Nelson Mandela com dirigentes petistas, em visita ao Brasil, 02 ago. 1991, São Paulo-SP. Créditos: Arquivo CSBH

A política de segregação racial implantada no país a partir daquele ano impôs humilhação, pobreza e isolamento à população negra por parte da minoria branca. O advogado e ativista Nelson Mandela tornou-se uma liderança contra as injustiças do apartheid. Depois de ser duramente perseguido acabou sendo condenado à prisão perpétua em 1964. Mesmo na cadeia, o líder continuou a inspirar as ações do movimento negro sul-africano. A luta pela sua libertação tornou-se global, com pressões e sanções por parte de organismos internacionais e governos à África do Sul, chamando atenção para a situação em que vivia população negra do país.

Entre 1985 e 1988, sob o governo de Pieter Botha, a violência contra os negros atingiu níveis extremos. Forças policiais patrulhavam o país em veículos militares, destruindo as plantações, prendendo, torturando e matando milhares de cidadãos negros, apesar da condenação da Organização das Nações Unidas e da maioria dos países.

Em 1989, Frederik De Klerk sucedeu Botha na Presidência. Na abertura do Parlamento, em 2 de fevereiro de 1990, o novo presidente assumiu o fracasso do apartheid e os males que o regime causou à população. O Congresso Nacional Africano, partido dos resistentes na clandestinidade, foi legalizado. Nelson Mandela foi libertado algumas semanas depois. As leis segregacionistas foram, aos poucos, abolidas – não sem resistência da minoria branca e com garantias muitas vezes frágeis. A luta ainda não tinha terminado, mas a força política de Mandela libertado conseguiria consolidar as conquistas e direitos dos negros sul-africanos.

Memória e documentação
Esse texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual do Instituto Lula dedicado às lutas democráticas do povo brasileiro.

O Centro Sérgio Buarque de Holanda de Documentação e História Política tem imagens da época desta viagem de Mandela e mais:

– 110 metros lineares de documentação textual (equivalente a mais de 900 caixas-arquivo)
– 300 adesivos
– 1.970 cartazes
– 8.040 fotogramas em folhas de contato fotográfico
– 745 diapositivos
– 21.450 fotografias
– 24.030 negativos
– 1.450 fitas audiomagnéticas
– 1.410 registros audiovisuais em diferentes formatos
– 80 bandeiras e faixas
– 1.000 broches
– 200 camisetas
– outros materiais: brindes de campanha, bolsas, discos de vinil, bonés e chaveiros.