Músicas que fazem a cabeça da esquerda
No campo da esquerda, a Música Popular Brasileira (MPB) foi bastante associada aos ideais de uma sociedade mais justa, especialmente durante o período da ditadura militar. A MPB se consagrou como ritmo musical ouvido pelo campo progressista nas últimas décadas, tendo Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré posição de destaque entre os principais compositores e intérpretes.
Até então nada de novo, mas, para além da MPB, quais outros ritmos vêm fazendo a cabeça dos militantes progressistas nas últimas décadas? Nesse breve contexto vamos falar um pouco do RAP, reggae e do punk rock produzidos no Brasil.
O RAP surgiu no final século XX nas comunidades afrodescendentes dos Estados Unidos como ritmo de protesto contra o racismo e as injustiças sociais. Nos tempos atuais, parte dos rappers norte- americanos também incluíram em suas rimas aspectos como ostentação, luxo e valorização da riqueza.
No Brasil, a história tomou rumo diferente e seus principais expoentes se mantiveram fiéis à ideia do RAP como música de protesto. As letras retratam a realidade da periferia repleta de discriminação racial, desigualdade social e falta de oportunidades para os jovens. Nas rimas brasileiras, destacam-se os Racionais MC´s, MV Bill, RZO, 509-E, Sabotage e Criolo. A seguir a letra dos Racionais MC’s retrata a realidade da periferia da cidade de São Paulo:
“Olha só aquele clube, que da hora/ olha aquela quadra, aquele campo, olha/ quanta gente/ tem sorveteria, cinema, piscina quente/ (…) tem corrida de kart, dá pra ver/ é igualzinho ao que eu vi ontem na TV./ Olha só aquele clube, que da hora/ olha o pretinho vendo tudo do lado de fora”
“Aqui não vejo nenhum centro poliesportivo/ pra molecada frequentar nenhum incentivo/ o investimento no lazer é muito escasso/ o centro comunitário é um fracasso/ mas se quiser se destruir está no lugar certo/ tem bebida e cocaína sempre por perto”
Música: Fim de semana no parque
Composição: Racionais MC – Álbum Raio X Brasil (1993).
O reggae, de origem jamaicana, também vem influenciando os músicos brasileiros insatisfeitos com a realidade social do país. As melodias desse ritmo abordam a religião rastafári, o amor e especialmente a crítica social. No Brasil, destacam-se Tribo de Jah, Ponto de Equilíbrio, Planta e Raiz, Mato Seco, Filosofia Reggae e Cidade Verde.
A seguir, a letra do grupo Tribo de Jah, que aborda o tema globalização:
“Globalização é a nova onda
O império do capital em ação
Fazendo sua rotineira ronda
No gueto não há nada de novo
Além do sufoco que nunca é pouco
Além do medo e do desemprego, da violência e da impaciência
De quem partiu para o desespero numa ida sem volta
Além da revolta de quem vive as voltas
Com a exploração e a humilhação de um sistema impiedoso”
Música: Globalização
Composição: Tribo de Jah – Álbum Reggae na Estrada.
O Punk Rock é outro ritmo que se opõe ao sistema capitalista. Surgido na década de 1970, na contracultura, aborda músicas políticas revolucionárias inspiradas no anarquismo. As letras tratam questões como a relação entre o capital e o trabalho, a opressão, a exploração, o desemprego, a violência e necessidade de uma revolução que altere a forma de produção capitalista. No Brasil, destacam-se entre as bandas punks Garotos Podres, AI-5, Cólera, Ratos de Porão, Os Replicantes, Olho Seco, Plebe Rude, Gritando HC.
A seguir, a letra dos Garotos Podres a respeito da relação capital x trabalho:
“Nasceu num subúrbio operário, de um país subdesenvolvido,
Apenas parte da massa de uma sociedade falida,
Submisso a leis injustas que o fazem calar,
Sem esperança de uma vida melhor, pois os parasitas sugam o seu suor,
Sobrevivendo das migalhas que caem das mesas os donos do papel.”
Música: Subúrbio Operário
Composição: Garotos Podres – Álbum Pior que antes.