Documentário apresenta o futebol nos tempos da ditadura militar
O documentário “Memórias do Chumbo: o futebol nos tempos do Condor”, produzido pelo jornalista e historiador Lúcio de Castro para o canal de esportes ESPN, revela em detalhes as relações entre futebol e ditadura no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, com um capítulo para cada país. No dedicado ao Brasil, é possível perceber como o regime militar controlou, e utilizou como propaganda, a paixão dos brasileiros por futebol.
Não é novidade a utilização do futebol como propaganda estatal, independente do regime de governo, mas no caso brasileiro este uso foi escancarado e acompanhado de perseguições e violências, inclusive aos próprios desportistas. O documentário busca mostrar, por meio de entrevistas e de pesquisas em documentos dos grandes arquivos nacionais e estaduais, onde, quando, com quais indivíduos e de que forma isso se deu. Enquanto a população brasileira se distanciava de sua realidade com os encantos de Pelé e companhia, milhares eram perseguidos e torturados em calabouços e quartéis pelo país.
É possível perceber no documentário que um problema para o regime ditatorial era que o sucesso da seleção nacional era medido a cada quatro anos, o que gerou grandes e caóticas intervenções na preparação da seleção brasileira em 1965, dividindo-a em quatro seleções que rodaram o país em cidades estratégicas para o regime, e que resultou no fracasso da mesma na Copa de 1966.
Com tal estratégia abandonada, a seleção venceu todos os seus jogos na classificação para a Copa de 1970 com o então técnico João Saldanha. No entanto, Saldanha era membro do extinto Partido Comunista Brasileiro e chegou a barrar repressores do regime na equipe técnica e jogadores indicados pelo então presidente Médici. Por fim, Saldanha foi afastado do comando da seleção nacional há poucos meses do início da Copa e, no seu lugar, entrou o ex-jogador Zagalo, que treinava o Botafogo na Escola de Educação Física do Exército, e que aceitou a inclusão de agentes da repressão e ‘da informação’ na comissão técnica, que já contava com militares de perfil técnico.
Esta intromissão também ocorria em nível estadual, nas equipes técnicas dos principais times e nos dirigentes das federações estaduais, como no caso da paulista, com a imposição de José Maria Marin como presidente (atualmente banido do esporte e preso em Nova Iorque). O regime militar também tinha ciência e acabou por ser conivente com as corrupções de João Havelange, presidente da Confederação Brasileira de Desportos à época, e que acatava as intromissões militares no desporto nacional.
O subtítulo do documentário faz alusão à Operação Condor, uma aliança político-militar e de integração de informações dos regimes militares da América do Sul com a CIA, dos Estados Unidos, nas décadas de 1970 e 1980, que reprimia e assassinava opositores destas ditaduras. Esta operação vazou para a grande mídia em 1978, quando o sequestro de um casal de uruguaios e seus filhos foi flagrado por repórteres. Um dos torturadores presentes era o ex-jogador de futebol Didi Pedalada.
A série de documentários pode ser assistida a partir dos seguintes links: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
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