No último dia 29 de maio, em um seminário realizado em São Paulo sobre o tema “revolução digital e trabalho decente” a ex-secretária-geral do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), Yasmin Fahimi, discorreu sobre o desafio de realizar um desenvolvimento inclusivo em um contexto de “revolução digital”, pois parece inadiável ajustar o mercado de trabalho às radicais transformações produtivas que decorrem dos avanços da chamada “indústria 4.0”.

Como bem sabemos, especula-se que em pouco mais de uma década metade dos postos de trabalho da Europa e dos Estados Unidos deixarão de existir, o que leva muita gente a perder o sono imaginando como enfrentaremos o desemprego maciço que poderá se instalar de forma inédita.

Mas Yasmin Fahini, que também é sindicalista, deputada federal e foi vice-ministra do trabalho, não compartilha desta perspectiva agourenta. Apoiada em um conjunto de experiências que já vêm sendo adotadas em seu país, onde os poderosos sindicatos têm larga tradição de negociação de contratos coletivos, a deputada alemã enxerga o que deveria parecer óbvio: se chegamos a um desenvolvimento tecnológico que elimina grande parte das ocupações, então nossa principal tarefa é nos organizarmos para que o conjunto da população que queira e precise trabalhar possa fazê-lo, cada qual trabalhando menos horas e, preferencialmente, podendo variar o tipo de atividade ao longo da sua trajetória de vida.

O desafio, claro, não é simples, mas em última instância depende fundamentalmente da capacidade dos atores sociais de pactuarem um modelo de repartição dos empregos que sobrarem entre todos que compõem a força de trabalho – aliás, no capitalismo o desafio sempre foi esse e as experiências de “pleno emprego” do pós-guerra são expressões concretas da necessidade de uma pactuação social que seja capaz de redistribuir o excedente produtivo que decorre da crescente automação da produção.

Em relação ao Brasil, mais especificamente, a fala de Yasmin foi ainda mais contundente. Depois de ouvir de diversos especialistas sobre os riscos que a “revolução digital” poderá trazer ao nosso já precaríssimo mercado de trabalho, a deputada não teve dúvida em afirmar que a maior parte dos problemas que afligem os trabalhadores no Brasil não tem relação nenhuma com as mudanças produtivas e tecnológicas que estão em curso nas economias centrais, mas resultam antes de mais nada além do descaso da sociedade brasileira com o construção de uma ordem social minimamente civilizada, isto é, que estabeleça padrões mínimos tanto para os aspectos da vida laboral quanto da própria existência cotidiana.

E tem toda razão a Yasmin Fahini.

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