O último livro de Boaventura de Sousa Santos, “Esquerdas do Mundo, Uni-vos”, apresenta de forma clara e objetiva os desafios da esquerda mundial, com especial atenção ao caso brasileiro.

Não é incomum grandes acadêmicos afirmando a necessidade de distanciamento histórico para fazer análises sobre momentos politicamente conturbados. Especialmente nessa quadra da história, a esquerda mundial vive um contexto de perseguição e tentativas infindáveis de cerceamento. Para um acadêmico que é uma das mais importantes referências do campo democrático e popular esse desafio foi superado com muita capacidade de análise e alguma capacidade de sonhar.

O pequeno livro (88 páginas), editado no Brasil pela Boitempo e lançado em março deste ano, aponta para questões graves do estado da política no mundo, especialmente com relação ao que o autor chama de “interregno”, explicado como uma espécie de bloqueio das esquerdas no mundo. As razões desse interregno são variadas: desde a ascensão antidemocrática de forças neoliberais até a enorme dificuldade encontrada pelas ideologias do campo popular na América Latina.

O autor não abandona suas históricas conceituações de democracia radical e multiculturalismo, e ainda as somam a um organizado debate sobre a necessária unificação das esquerdas. Engana-se aquele que logo interpreta essa unificação com o contexto das tão faladas frente amplas. Ele aponta que essas alianças são importantes, mas elas são inócuas se não tratarem, ao mesmo tempo, de criar um projeto alternativo ao capitalismo, ao patriarcado e ao colonialismo.

Tratando do caso brasileiro, colombiano, mexicano e espanhol, o professor português apresenta um alerta extremamente necessário: o avanço das forças conservadoras e autoritárias é uma estratégia dos neoliberais no mundo todo.

Apesar do carinho com que Boaventura sempre tratou o Brasil, é essencial entendermos um recado mais duro que é dado para nós: não estamos sozinhos nesse processo de perseguição, e essa compreensão e fundamental para a retomada da democracia, desde que se discuta qual é o modelo de democracia que estamos querendo para a sociedade.

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