40 anos da greve na Scania: braços cruzados contra a ditadura
Há quarenta anos, no dia 12 de maio de 1978, os trabalhadores da Scania, em São Bernardo iniciaram uma greve considerada um marco histórico no movimento sindical e político do Brasil. Eles entraram na fábrica, vestiram os uniformes, cruzaram os braços e as máquinas não foram ligadas. Todos os setores pararam. As reivindicações eram aumento de 20%, além do índice oficial do governo e melhores condições de trabalho, um desdobramento da campanha pela reposição salarial deflagrada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em setembro de 1977.
Naquele momento, o governo proibia greves ou qualquer outro tipo de reunião (lei 4330/64), mas as reações à falta de liberdade e às duras condições de vida estavam surgindo com as manifestações de estudantes nos anos anteriores, nas paralisações parciais em setores de fábricas como a Volks e a Mercedes. A direção do Sindicato dos Metalúrgicos, representada por Lula, deu apoio ao movimento espontâneo dos trabalhadores da Scania. A direção da Scania se comprometera com os trabalhadores que iria aumentar os salários em 20%, além do índice determinado pelo governo, e em assembleia os trabalhadores terminam a greve. O que seria uma vitória, no entanto, não se concretizou. A empresa recuou na homologação do acordo na DRT (Delegacia Regional do Trabalho), a Justiça determinou o fim da greve e a aplicação de 6,5% de reajuste. Os trabalhadores da Scania retomam a greve, apoiados pela solidariedade de outros operários da categoria, que também cruzaram os braços em várias empresas da região. “Naquela altura, a greve já tinha se estendido aos 10 mil metalúrgicos da Ford e aos 1.500 da Mercedes-Benz. Na fábrica da Volks, a greve começou em um setor em que trabalhavam mais de mil operários. O sindicato conduziu as negociações caso a caso, como havia feito na Scania. Entre maio e agosto, cerca de 120 mil trabalhadores de 132 empresas do ABC paulista conseguiram aumentos e antecipações salariais, como resultado direto ou indireto do movimento grevista.”(Máquinas ficam paradas no ABC – Memorial da Democracia)
Para Augusto Cássio Portugal Gomes, líder de inspeção da Scania, em entrevista para o jornal A Tribuna Metalúrgica de 11/05/18, aquele movimento conseguiu materializar um sentimento. “Tinha debate político sobre ditadurae sobre as perdas que a ditadura causava especialmente aos trabalhadores. Ou a gente para essa ‘bagaça’ ou dificilmente a gente consegue reunir força no Brasil para empurrar essa ditadura pra fora de cena”, afirma.
Além de impulsionar uma série de lutas contra a ditadura, as greves a partir de 1978 fortaleceram a participação mais ativa dos trabalhadores, com a organização por fábricas e os piquetes e as paralisações. Esse modelo de negociação desmontou a estrutura engessada pela legislação da ditadura e ampliou a ação dos sindicatos dos trabalhadores.
Fontes:
Tribuna Metalúrgica 12/05/1978 “Operários da Saab-Scania iniciam greve por 20% de aumento. A empresa procura Sindicato na perspectiva de colocar fim ao movimento. Mas o Sindicato, através de seu dirigente, Lula, apóia a greve dos trabalhadores”, em ABC de Luta – Memória.
Memorial da Democracia – http://memorialdademocracia.com.br/cardMem/maquinas-ficam-paradas-nas-fabricas-do-abc#card-185
Tribuna Metalúrgica 11/05/18 – Quarenta anos da greve da Scania
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