Amazônia: uma periferia que ecoa da floresta paraense
Por Cássio Nogueira
Pensar as periferias sem perceber a periferia amazônica em específico é mais uma vez sinalizar para o fato de que uma parcela do Brasil ainda não atentou-se, nem tampouco reconhece, o papel estratégico e singular da Amazônia na construção da multidimensionalidade cultural, social e econômica do Brasil.
A periferia na Amazônia paraense constitui-se de um processo permanente de pobreza e ausência de políticas públicas, similar ao que configura as periferias no Brasil, salvaguardada sua diversidade geográfica, ambiental, étnica e cultural. Contudo, para delimitarmos melhor o sentido do termo periferia, podemos compreendê-lo tanto a partir do olhar territorial, como sendo aquele espaço localizado à margem, como também, e complementarmente, pelo olhar sociológico, como sendo um local socialmente excluído.
Ao longo de sua história, a Amazônia brasileira passou por vários ciclos econômicos os quais, via de regra, lhe impuseram o papel de fornecedora de matérias-primas para o Brasil e para o mundo, seja no período das drogas do sertão, da borracha ou, mais recentemente, dos grandes projetos militares para a exploração dos minérios. Modelo esse que obedecia aos interesses de fora da região, excluindo a população local e promovendo alterações no comportamento geográfico, fazendo com que a população Amazônia se torne urbana chegando a patamares de 74% de seu povo morando nas cidades. O fenômeno de maior responsabilidade da urbanização na Amazônia é a concentração de terras por meio das grilagem e da força do latifúndio, que destina a maior parcelas de suas terras a pecuária e a monocultura.
Aqui vamos nos ater, basicamente, à discussão sobre as periferias do estado do Pará, estado que é a segunda maior unidade da federação em território, com uma área de 1.248,000 km², pouco menor que o Peru e a 13ª maior entidade subnacional do mundo. Os 144 municípios do Pará possuem 8.366.628 habitantes. Este território, que contem o maior contingente populacional da região norte, guarda, sob seu manto verde, a maior periferia da floresta.
São homens e mulheres do campo, das águas, dos quilombos, das aldeias e das cidades que experimentam há séculos um estado permanente de pauperização e invisibilidade social e política, dentro de uma construção histórica pensada pelas elites locais.
É imperativo que a região da Amazônia brasileira não seja percebida apenas pelos seus aspectos ambientais, faunísticos, biológicos ou hídricos, contudo, perceber que neste pedaço de chão também vivem sonhos invisibilizados pela força da bala, concentração de renda e terras. Leia aqui o texto completo.